
Vejo as tatuagens nos braços das mulheres e fico a perguntar porquê.
Quando era jovem, sempre quis ter uma tatuagem e um brinco. O meu pai, porém, jamais o permitiria, e jamais eu tomaria essa decisão à sua revelia.
Será um símbolo gravado no corpo um grito contra as convenções? Ou apenas uma moda?
Que significado carrega, afinal, essa afirmação que se inscreve para sempre?
Qual a motivação e o compromisso de uma tatuagem?
Seja qual for a resposta, o meu pai, com 84 anos, ainda não gostaria que eu a fizesse.
Brandoa, 06 de dezembro de 2025

Luís Palma Gomes nasceu em Lisboa, em 1967, e cresceu na periferia, em Queluz — entre linhas de comboio, pequenos quintais e o rumor longínquo da cidade. Engenheiro informático de formação, é hoje professor de Informática no ensino secundário. A escrita, porém, sempre lhe correu em paralelo, como um rio subterrâneo. Começou a publicar nos anos 90 no suplemento DN Jovem, onde os primeiros poemas encontraram lugar. Poeta do intervalo e da fricção, escreve a partir do quotidiano, da contemplação das pequenas coisas, dos gestos que passam despercebidos. Publicou Fronteira em 2022, e O Cálculo das Improbabilidades em 2025, onde aprofunda uma linguagem feita de tensão entre o visível e o indizível, entre a matéria e o símbolo, entre a casa e o mundo. É também autor de peças de teatro, como A Moura e O Último Castro Antes de Roma, onde a memória histórica se cruza com as inquietações humanas. Escreve e ensina jovens, porque precisa de ver crescer alguma coisa — nem que seja uma imagem, uma ideia, uma manhã, uma vontade. Não tem medo da água fria do mar.