Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho
unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna.
João 3:16
Tomé esse foi o nome com o qual meus pais me batizaram, toda herança que me deixaram registrada no cartório com quatro letras e dois sobrenomes: Oliveira da Silva. Alguns dias da infância sem comida, nutriram em mim o sonho por fartura, o poder confiar em mim mesmo, carregar no bolso a solução para todos os conflitos, a chave da felicidade na carteira e no cartão.
Aquele velho itinerário percorrido pelos telejornais e programas de auditório, tinha contado inúmeras vezes a minha história, encarnada por outros personagens, privações variadas, dias extensos de trabalho exaustivo, seguidos por horas de estudo na
universidade, que lhes concederam o status de vencedores, este status eu tatuei em todas as frases e sentenças que proferi em minha vida adulta, com a confiança de Loco Abreu batendo aquele pênalti com uma cavadinha, na copa de 2010.
Meu salário satisfaz as minhas necessidades, ainda sobra um pouco para as alegrias e para os imprevistos. Sou controlado com os meus gastos, não curto essa onda de ostentação. Aprecio bastante o comer bem. Em algum lugar no meu inconsciente, deve estar tentando alimentar o menino que fui. As horas parecem ter mais de 60 minutos, quando a gente está com fome.
A minha vida como relatei até aqui é pouco interessante, eu tenho perfis em algumas redes sociais, mas faço poucas postagens, no “reality show” do cotidiano, a maior parte de nós está sempre no paredão, condição que nos tornou insensíveis
aos riscos.
Todas as vezes que visito minha tia Esther, antes de voltar pra casa, gosto sempre de comer na mesma padaria, que fica há duas quadras da casa dela, o tempero deles tanto dos lanches, quanto dos pratos, é muito bom.
Numa destas visitas à padaria me aconteceu algo estranho, pedi um beirute e um suco de melancia, depois um pedaço de bolo de chocolate, finalizei com um cafezinho, quando sinalizei para o Alcebíades finalizar a minha conta, ele demorou para se dirigir até a minha mesa e quando vinha até mim, notei que não trazia a maquininha, ainda não aderi ao pix, gentilmente o garçom me disse que a conta estava paga, olhei ao redor pra ver se identificava que tinha se equivocado, pois eu podia pagar o valor daquela conta ao menos por cinco vezes, sem comprometer o meu orçamento, quer ajudar, vá procurar quem precisa, eu não quero nunca mais ser confundido com um miserável, quando eu era um deles, poucas vezes recebi tal favor, tia Esther foi uma que sempre nos ajudou. Não aceito isso, de jeito nenhum!
Fernando Rocha é paulistano, nascido em 1981, graduado em Letras, professor na rede municipal de São Paulo, autor do livro de contos Sujeito sem verbo(Confraria do vento), da novela Os laços da fita (Penalux) e Afetos (Penalux). Tem um conto na antologia“Descontos de fadas (Alink) e Pouca Pele (Alink). Possui textos publicados nos portais: Mallarmagens, Amaité Poesias & Cia, Diversos e afins, Revista Gueto, Incomunidade, Letras Inacabadas e Letras et Cetera.
Respostas de 2
Parabéns pelo retorno. Bem vindo de volta à escrita. Gostei. Abraço ✌️
Seu amigo Daniel.
É só um breve retorno ao mundo das publicações virtuais, sempre escrevo algo, mas não público a maior parte do que escrevo, exceto às narrativas fotográficas.