Um poema de Sammis Reachers

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Canção atômica do Natal tardio
 
Há um Natal suspenso
nos gatilhos e bolsas de valores do planeta,
na dependência de o assassino
disparar ou não
 
Espírito Santo
esparja a canção
pela paz
deflagre a epidemia
de armistícios
 
Há um Natal envenenado
na química porca & barata
de uma pedra de crack
 
Mas Senhor, Espírito Santo
espalhe a paz pela canção
dissolva os contratos de escravidão
esculpidos em pedra
 
Há um Natal latente
na mente de um embriagado
que Hoje cisma: Hoje deixarei
esta bebida e aquela prostituta
e voltarei para casa
e se a porta não se abrir,
sequer neste vasto dia
que é Hoje, deitarei
na serventia como um cão,
como um Bartimeu que brada
até cegar-me mudo de gritar
 
Espírito Santo,
cante a canção que rompa
que abra que despedace grilhões
e grileiros de corações
com a sua (ir)radiação
 
cante a canção que cumpra
as canções de Isaías e Davi
e de cada qual dos quais
o mundo não era digno
 
Espírito artefato Santo nuclear
expluda a estrela
no lugar exato,
o miolo da treva,
para rasgar de nós
o silêncio-nossos-mantos
 
contempla-nos, cá no pó
beduínos dispersos no deserto
entoe a canção atonal & auroral
da estrela-que-anda
e faz todos os descaminhos da Terra,
com nossas torrentes de pranto
convergirem até o oceano-Ele 
 
 
 
 

Sammis Reachers (Niterói, 1978) é poeta, escritor, antologista e editor. Autor de 12 livros de poesia, cinco de contos/crônicas e um romance. Organizador de mais de 50 antologias. Professor de Geografia habilitado também em História e Artes, além de bibliotecário.

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