
Imagem gerada com o chat GPT
Há anos tento entender o que acontece, passa julho e o ano acaba. É tudo um enorme atropelo. É como se passássemos o ano descendo uma escada, no meio dela damos um trupicada e descemos todo o resto em um escorregão. Lembro quando eu era criança da minha mãe me contar que quando se é adulto o tempo passa mais rápido. Gente, mas pra que essa velocidade toda? Apesar dos pesares, acho tão legal viver que gostaria que o passeio fosse mais devagar.
 
No início de outubro eu e minha filha mais moça andávamos por um shopping da cidade. Eu respondia uma mensagem de trabalho quando ela disse: “Olha mamãe um papai Noel!” Pronto e assim o natal chegou! Meu celular ouviu, porque sim os celulares têm ouvidos e somos vigiados o tempo todo. Não demorou muito para surgir no meu instagran sugestão de drinks e aperitivos natalinos. O algoritmo, aquele espertalhão, sabe que o meu fraco não é o papai Noel em si.
 
Poucos dias depois passei por uma loja com um papai Noel enorme na porta e dentro tinham guirlandas, bolinhas, muitas coisas douradas, verde árvore de natal e vermelho. Fiquei tão chocada que quase entrei na loja e perguntei para o gerente onde foi parar o halloween??? Que é isso???? Cadê o zumbi da porta???? Cadê as abóboras, morcegos, esqueletos e fantasminhas????
 
Fiquei um pouco mais tranquila quando vi na loja ao lado a decoração de dia das bruxas. Mas ainda assim quem deu o direito daquela primeira loja, que finge estarmos às portas de dezembro, queimar a largada da tradição importada e já colocar o senhorzinho com roupa quente antes mesmo dos termômetros marcarem 43 graus à sombra??? Em dezembro teremos o que nas lojas????? O coelhinho da páscoa, vestido de havaiana para o carnaval???? Acho isso uma enorme falta de elegância com o vivente. Uma falta de etiqueta sazonal. Apressar a vida da pessoa que já vive na sociedade da ansiedade. Incentivar o consumo precoce, sem obedecer à ordem das coisas, de quem já vive na sociedade do consumo. Desnecessário!
 

Malvina de Castro Rosa é de Porto Alegre. Escritora, relações públicas e mestra em design estratégico, publicou os livros As loucas aventuras da guria maluca (crônicas, 2013), Paralelos Cruzados (2021), seu primeiro romance, e Crônicas de um fim do mundo antecipado (2023), no qual reúne crônicas do blog semanal que mantém há mais de quatro anos, www.bomdiasociedademachista.blogspot.com. Em 2024, lançou a coletânea de contos Em nós. Atualmente, é editora assistente na Caravana Grupo Editorial, no Brasil, e editora-chefe da Caburé, na Argentina, além de conselheira da revista Vinca Literária
								
Respostas de 2
Como diz Malvina Castro, escorregamos em julho e com ele o ano acabou. Chegou o Dezembro, ao piscar o olho, passa-se o semestre seguinte… Pra que tanta pressa ? E o futuro vai pra onde? Passamos por ele na estrada e nem o cumprimentamos.
Sou sua fã Malvina Castro
Boa crônica, escritora de observação estilo original.