13 Poemas inéditos de Francis Kurkievicz

Ilustraçao: Fukuoji Kazuhiko

 #minuto rebelde

 

para cada ativista social

para cada líder comunitário

para cada defensor divergente:

executado

assassinado

emboscado

façamos um minuto de incêndio!

 

 

#a luta

 

a luta é uma defesa

que reabilita o resistente

mas não justifica o predador.

 

 

#vale o escrito

 

milico não lê poemas

e nem a Constituição

não lê nada que possa

libertar o espírito

ou perturbar sua razão.

 

 

#o retorno

 

inimigos ocultos

invadem o ágora

trazem fantasmas de dias idos

põem na linha do nosso horizonte

silhuetas disformes e temerárias.

 

 

#cinzas no armário

 

arquivo morto

não delata

mas todo morto

deixa sua mensagem.

 

 

#cessionário

 

talvez a civilização

seja um modo de domesticar

a virtude lírica do ócio.

 

 

#presidência

 

um presidente romancista

só pode dar num governo de ficção;

um presidente ator

um governo canastrão;

um presidente milico

só pode terminar

em tiros contra a multidão.

 

 

#estado é direito

 

só o estado de direito

pode mudar a trajetória

da bala perdida.

 

 

#voracidade

 

a utopia do consumo

consome o sonho

nos trópicos.

 

 

#artilheiro

 

estudante

com talento para o futebol

à saída da escola

mata a bala perdida no peito

outra na cabeça

e mesmo assim

não evita o gol do policial.

 

 

#destino

 

o voto é um vermífugo

um laxante que lacera

a fera que habita

o congresso nacional.

 

 

#zênite

 

na visão dos satélites

as cidades se mostram como um vírus

a expandir e espalhar sobre a textura do verde,

a morte.

 

 

#power on/off

 

precisamos dar um restart
no mundo;

deu bug na
civilização

 
 

Francis
Kurkievicz:
possui um diploma de Bacharel, duas especializações e um MBA que nada interessam ou acrescentam à poesia. É investigador de coisas intangíveis, como matéria negra, vacuidade, linguagem onírica e o silêncio dos mestres. Tem se dedicado única e exclusivamente a poesia por questão de natureza [e por não confiar nos paradigmas da presente civilização]. Investe sua atenção observando às próprias motivações psicológicas, escrevendo, lendo e transcriando poemas alheios de outros exilados, entre uma inalação e outra, um sono e outro. Como Bashô, acredita que a poesia é um modo de vida, uma jornada sagrada, um imperativo categórico. Publicou seu único livro de poemas [até o presente momento] pela editora paulista Patuá, em dezembro de 2020, intitulado: B869.1 K96. Migrou de Curitiba/PR para Vitória/ES num exílio voluntário, poético e salutar.

 

Uma resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *