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Ilustraçao: Fukuoji Kazuhiko |
#minuto rebelde
para cada ativista social
para cada líder comunitário
para cada defensor divergente:
executado
assassinado
emboscado
façamos um minuto de incêndio!
#a luta
a luta é uma defesa
que reabilita o resistente
mas não justifica o predador.
#vale o escrito
milico não lê poemas
e nem a Constituição
não lê nada que possa
libertar o espírito
ou perturbar sua razão.
#o retorno
inimigos ocultos
invadem o ágora
trazem fantasmas de dias idos
põem na linha do nosso horizonte
silhuetas disformes e temerárias.
#cinzas no armário
arquivo morto
não delata
mas todo morto
deixa sua mensagem.
#cessionário
talvez a civilização
seja um modo de domesticar
a virtude lírica do ócio.
#presidência
um presidente romancista
só pode dar num governo de ficção;
um presidente ator
um governo canastrão;
um presidente milico
só pode terminar
em tiros contra a multidão.
#estado é direito
só o estado de direito
pode mudar a trajetória
da bala perdida.
#voracidade
a utopia do consumo
consome o sonho
nos trópicos.
#artilheiro
estudante
com talento para o futebol
à saída da escola
mata a bala perdida no peito
outra na cabeça
e mesmo assim
não evita o gol do policial.
#destino
o voto é um vermífugo
um laxante que lacera
a fera que habita
o congresso nacional.
#zênite
na visão dos satélites
as cidades se mostram como um vírus
a expandir e espalhar sobre a textura do verde,
a morte.
#power on/off
precisamos dar um restart
no mundo;
deu bug na
civilização
Kurkievicz: possui um diploma de Bacharel, duas especializações e um MBA que nada interessam ou acrescentam à poesia. É investigador de coisas intangíveis, como matéria negra, vacuidade, linguagem onírica e o silêncio dos mestres. Tem se dedicado única e exclusivamente a poesia por questão de natureza [e por não confiar nos paradigmas da presente civilização]. Investe sua atenção observando às próprias motivações psicológicas, escrevendo, lendo e transcriando poemas alheios de outros exilados, entre uma inalação e outra, um sono e outro. Como Bashô, acredita que a poesia é um modo de vida, uma jornada sagrada, um imperativo categórico. Publicou seu único livro de poemas [até o presente momento] pela editora paulista Patuá, em dezembro de 2020, intitulado: B869.1 K96. Migrou de Curitiba/PR para Vitória/ES num exílio voluntário, poético e salutar.
Uma resposta
atuais, necessários, exatos.
nuno g.