Sê inteiro o que és. No espaço em que dançam as palavras, ao tempo sem tempo de haver coisa alguma, exceto o prazer de deitá-las no dormitar das folhas do mundo. Sem cor é já uma cor. Coração, onde o teu corpo já é a alma deslumbrante, quando nem sabes que existes. Os pontos cardeais postados em paisagens de limo lunar, silentes e soltos como drusas medrosas, te observam, enquanto o sol oferece à tua orla uma ânfora de sementes eufóricas para que chegues a ser pão, ou ponte de espanto; para que cintilem, no crescimento das flores, as tuas transparências e leituras crescentes, envolvidas nos teares, nos timbres imóveis dos reflexos, no teu sorriso que envolve o estar vivo.
De algum lugar, José Maria
“Que a dúvida não me sirva de algema, que o sentimento não seja desvio, que os meus olhos jamais deixem de ver o sonho da razão com as tundras da ternura, sendo a mutação a cada momento, que eu possa sentir-me plenitude apenas quando me aproximo de outra alma”.
Na subida, sujou de céu as palavras e libertou, na geometria voraz da linguagem, suas lágrimas azuis, sua incompletude e significabilidade unindo-se, perpetuamente, ao desconhecido – ele queria o coração antes daqueles erros.
O silêncio, atônito, o insulta com seu obscuro e inexorável raiar cromático, e avança em forças, num jogo rítmico de uma antecipação oscilante, de outras perplexidades e visões, cena que a cratera esvazia na fusão dos espaços, vindo à tona para respirar o caos, o turbilhão contundente e indefinível, porque nada está dividido na sabedoria de não conhecer a correnteza cósmica de todas as coisas e de todos os seres. “A manhã está gélida, mas somente até que o sol a destroce”.
Imagina o inimaginável. E é ali que Jose Maria escreve, e escreverá sempre, o que seria o fogo sobre o não ver – a cicatriz de um futuro que se atrasou na urgência de ouvir o que inexiste e se encontra no desaparecimento da luz embrionária, da hora mágica imergindo em vagas, novos pássaros, novas sementes – sua voz irreverente a nascer na falha, no sangue calado, à sombra solícita das estrofes, onde o instante não se mente por que se incrusta numa folha inacabável.
Textos do livro “Vozes & Recortes” – contos – Editora Penalux -2015
Arte Digital: Tere Tavares: Flores e Flores Silvestres – 2019


Tere Tavares, escritora e pintora, radicada em Cascavel, PR, autora dos livros Flor Essência (2004), Meus Outros (2007), Entre as Águas (2011), A linguagem dos Pássaros (Ed Patuá 2014), Vozes & Recortes (Ed Penalux 2015), A licitude dos olhos (Ed Penalux 2016), Na ternura das horas (Ed Assoeste 2017), Campos Errantes (Ed. Penalux, 2018). Conta com publicações em antologias, jornais e sites literários nacionais e internacionais. Integra a Academia Cascavelense de Letras.
Blog: http://m-eusoutros.blogspot.com.br
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