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Ilustração: Ronald Ong |
POEMA DO SÉCULO PASSADO
Imaginou o cavalo de crina vegetal enquanto
mastigava um feixe de pixels
Encheu de mimos o corpo virtual
que lhe devolvia no máximo um sorriso fixo
Expulsou a tristeza pela porta giratória
retornou mais tarde repetindo um número
Tentou escanear as próprias feições
vazou no canto da tela a linha do signo
Entrou sorrateiro no blogue da amada
tropeçou no sarcasmo impessoal do algoritmo
PERFUMAR-SE PARA DORMIR
Quem diria o maior
posto de observação que me
tocou para ver o fim de tudo
foi o pequeno quarto em
que me perfumo e
espero paciente a
visita do sono
PERDER UM DENTE
Adeus mó triturante
do hábito
planos de mastigação
rigidez cartilagens
dormiram sob tua
sombra calcária
Anos limaram o esmalte
folhagens nervos fibras
rumens litúrgicos
tocaram tua margem
Ali onde ainda há medo
balbucio e
a noção rudimentar da
língua
Cândido Rolim nasceu na cidade de Várzea Alegre, interior do estado do Ceará, nordeste do Brasil, em 1965. É formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela PUC/RS e reside atualmente em Fortaleza. Alguns livros publicados: Arauto (1988, Ed. Dubolso, Sabará/MG), Exemplos alados (1997, Ed. Letra & Música, Fortaleza/CE), Pedra habitada (2002, Ed. AGE, Porto Alegre/RS), Fragma (2007, Ed. Secult, Fortaleza/CE) , Camisa qual (2008, Ed. Éblis, Porto Alegre/RS) e Sutur (2018, Texto Território, Rio de Janeiro/RJ). Publica poemas,artigos e ensaios em alguns sítios e revistas de literatura e crítica na web.
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