nas dobras de Merleau-Ponty
percorro, com
dedos úmidos , já desfigurados
o território chamado agora
é infinita sua gramínea
e nos meus pés dorme o silêncio verde de plânctons e barcos
ali naufragado
uma lentidão sem peixes demora entre as sístoles e as diástoles do dia
vozes de crianças desgastam a verticalidade dos prédios
crescem na superfície o lugar comum da alegria
pequenos corpos vegetais deslizam na pele do vento
são pétalas de margaridas arquitetando dimensões sonoras
ritmos entre os juncos e as rosas
que desaparecem nos tremores da luz do sol
desenhando intensidades ígneas na dança dos olhos:
dedos úmidos , já desfigurados
o território chamado agora
é infinita sua gramínea
e nos meus pés dorme o silêncio verde de plânctons e barcos
ali naufragado
uma lentidão sem peixes demora entre as sístoles e as diástoles do dia
vozes de crianças desgastam a verticalidade dos prédios
crescem na superfície o lugar comum da alegria
pequenos corpos vegetais deslizam na pele do vento
são pétalas de margaridas arquitetando dimensões sonoras
ritmos entre os juncos e as rosas
que desaparecem nos tremores da luz do sol
desenhando intensidades ígneas na dança dos olhos:
vestígios ~
interstícios ~ mapas
fluxos ~ distâncias compartilhadas
ver é des-dobrar-se no espaço
interstícios ~ mapas
fluxos ~ distâncias compartilhadas
ver é des-dobrar-se no espaço
ascendência
antes da mãe da
mãe da mãe da mãe da mãe da mãe da mãe
da minha mãe
vieram mulheres em longas fileiras
traçando uma geografia arenosa no átrio da memória
mãe da mãe da mãe da mãe da mãe da mãe
da minha mãe
vieram mulheres em longas fileiras
traçando uma geografia arenosa no átrio da memória
ninguém, nem eu,
nunca soube os seus nomes
mas quando danço, amo ou escrevo um poema
eu sinto no movimento das ancas e das mãos
o verão dos seus olhos
a sede das suas vozes
nunca soube os seus nomes
mas quando danço, amo ou escrevo um poema
eu sinto no movimento das ancas e das mãos
o verão dos seus olhos
a sede das suas vozes
não é que
alcance tocá-las
não, ao contrário
alcanço perdê-las
para o cosmos
para o caos
para o nascimento de alguma estrela
para uma teoria que tenha por resíduo um sussurro vermelho
para o fluxo
de incalculáveis ontogêneses
alcance tocá-las
não, ao contrário
alcanço perdê-las
para o cosmos
para o caos
para o nascimento de alguma estrela
para uma teoria que tenha por resíduo um sussurro vermelho
para o fluxo
de incalculáveis ontogêneses
a linha da pipa
eu estaria,
talvez, na alameda
sustentando com a mirada
a cavalgada de mil pássaros sem asas
que regressam ao despenhadeiro
a correnteza de uma palavra
atravessaria as árvores e os versos não escritos
como um grito sem carne
talvez, na alameda
sustentando com a mirada
a cavalgada de mil pássaros sem asas
que regressam ao despenhadeiro
a correnteza de uma palavra
atravessaria as árvores e os versos não escritos
como um grito sem carne
tu não chegarias
é difícil costurar essa ausência
tocar o mundo sem luvas
é difícil costurar essa ausência
tocar o mundo sem luvas
a tarde leva na
corcunda um trovão de bronze
corcunda um trovão de bronze
tu chegarias
desenhando no chão
o mapa do teu nome
os orvalhos que molham os horizontes
é difícil fazer essa curva
ver o mundo no instante em que se turva
desenhando no chão
o mapa do teu nome
os orvalhos que molham os horizontes
é difícil fazer essa curva
ver o mundo no instante em que se turva
a tarde leva na
orelha uma cascata de tulipas negras
orelha uma cascata de tulipas negras
tu deixarias
cair
na minha blusa
uma pétala, uma fissura
e uma letra
cair
na minha blusa
uma pétala, uma fissura
e uma letra
eu estaria,
talvez, na alameda
lendo a tua carta
com os ossos em desalinho
como uma menina
prolonga os dedos na
talvez, na alameda
lendo a tua carta
com os ossos em desalinho
como uma menina
prolonga os dedos na
l
i
n
h
a
i
n
h
a
da
pipa
na
fúria dos ventos
pipa
na
fúria dos ventos
Carla Carbatti é doutoranda em Estudos da Literatura e da Cultura pela Universidade de Santiago de Compostela (USC). Possui textos poéticos, ensaísticos e resenhas publicados em várias revistas eletrônicas. É autora do poemário Na cadência do caos editado pela Urutau, 2016.