3 poemas de Constâncio Negaro

Ilustração: Cyril Berthault-Jacquier
não ouço
latas na avenida São Luís
mas há corpos ondulantes nas calçadas
inertes
a raiz quadrada do poeta
é não ser burguês – mas ele o é –
enlatado como sardinha em seu espaço
a avenida São Luís está logo ali
com suas latas barulhentas
e os corpos
invisíveis-flutuantes-gritantes


***
eu dentro de você
você em mim até a última gota do gozo
o cão ladra na rua
o cristo crucificado na parede
– é cego e surdo –
no púlpito o coroinha acerta o vinho e a hóstia
enquanto nua você a me sussurrar
: fica tão bonito com essa batina!


 ***

fazer poema
é desossar sombras
acarinhar as fontes privadas
e deixar o rio seguir
sem intrigas
com os irmãos que soltam pipas
no céu de Marte.


Constâncio Negaro, poeta, escreveu Vinte menos um poema sobre a fé pelo Coletivo Dulcinéia Catadora. Poemas publicados no site Cronópios e Covas do Poeta.

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