3 poemas em espanhol de Anna Apolinário – tradução de Floriano Martins

Quando respiras eu sinto a imensidão do teu sonho
dentro de mim

 

Teus pulmões estendem tapeçarias frementes em meus
ouvidos.

Colossais fios em galope por todo meu corpo.

Indomável reluzente vestimenta de céu e trovão.

Minhas pálpebras estremecem:

o movimento das asas de um pássaro mágico dentro do
labirinto.

Teu sonho é um sussurro de rústicos rubis molhando meus
lábios.

Meneio meus cabelos:

salamandras dançam hipnotizadas ao som de teus tambores.

Quando tua língua se move, desmesurada víbora,

e meus dedos escavam em busca da chave,

as mil portas do poema ardem.

Minha faiscante raflésia,

quando respiro eu traço um tremor de terra

na corola sangrenta do teu sonho.

 

 ***

 

Cuando
respiras yo siento la dimensión de tu sueño dentro de mi

 

Tus pulmones extienden
tapicerías en mis oídos.

Colosales hilos en galope por todo mi cuerpo.

Indomable reluciente vestimenta de cielo y
trueno.

Mis párpados se estremecen:

el movimiento de las alas de un pájaro mágico
dentro del laberinto.

Tu sueño es un susurro de rústicos rubíes
mojando mis labios.

Meneo mis cabellos:

salamandras bailan hipnotizadas al sonido de
tus tambores.

Cuando tu lengua se mueve, desmesurada víbora,

y mis dedos cavan en busca de la llave,

las mil puertas del poema arden.

Mi rafflesia chispeante,

cuando respiro yo trazo un temblor de tierra

en la corola sangrienta de tu sueño.

 

………………………………………………… 

 

Os sonhos me possuem como a virgem sacrificial de suas
noites

 

Meus seios se eletrificam nas mãos luciferinas de seus bosques.

Pecados e clamores cravam esferas de fogo na medula Divina.

Corvos bicam os mamilos das mulheres possessas.

Meus demônios dançam nos casebres celestes de suas bocas.

Uma de minhas nudezes desliza pelas artérias afiadas do sonho,

brincando com as luzes alucinantes de seus gumes.

Somos animais em mutação, multiespectrais,

crimes e miragens asquerosas gemendo ao sexo do sol.

Nossos nomes lambem o alfabeto bestial do abismo,

nossos rostos petrificam os espelhos,

nosso sangue profana os punhais.

As manhãs acordam quase sempre fora de lugar.

 

 ***

 

Los sueños
me pueden como la virgen sacrificial de sus noches

 

Mis senos se electrifican en las manos
luciferinas de sus bosques.

Pecados y clamores clavan esferas de fuego en
la médula de Dios.

Los cuervos pican los pezones de las mujeres
posesas.

Mis demonios bailan en los caseríos celestes
de sus bocas.

Una de mis desnudeces se desliza por las
arterias afiladas del sueño,

jugando con las luces alucinantes de sus
filas.

Somos animales en mutación, multiespectrales,

crímenes y espejismos asquerosos gimiendo en
el sexo del sol.

Nuestros nombres lamen el alfabeto bestial del
abismo,

nuestros rostros petrifican los espejos,

nuestra sangre profana los puñales.

Las mañanas despiertan casi siempre fuera de
lugar
.

 

Teu corpo nu

  

Minhas mãos soletram a miséria do teu corpo nu.

E balbucio o alfabeto colérico de tuas células,

Afiando e grafando gangrenas nas tuas frestas.

Teus músculos impiedosos incrustando,

Suas ríspidas hemorragias no acetinado dorso de minha
íris.

Teu corpo, arruinada tábula secreta,

Purulentas centelhas tatuadas nos papiros da pele.

Nos poros ruge a mísera
partitura do sangue,

Cada ranhura rumina um grito de amor.

 

 ***

 

Tu Cuerpo
Desnudo

 

Mis manos deletrean la miseria de tu cuerpo
desnudo

Y balbuceo el alfabeto colérico de tus
células,

Al afilar y riscar gangrenas en tus grietas,

Tus músculos despiadados incrustando

Sus ríspidas hemorragias en el satinado dorso
de mi iris.

Tu cuerpo, arruinada tabla secreta,

Purulentas chispas tatuadas en los papiros de
la piel,

En los poros ruge la mísera partitura de la
sangre,

Cada ranura rumia un grito de amor.

 

 

Poemas de A Chave Selvagem do Sonho (Triluna, 2020).

 

As versões em espanhol foram publicadas em Acuario de Las Tempestades – 100 anos de Surrealismo – Agulha Revista de Cultura #145 EDIÇÃO COMEMORATIVA | CENTENÁRIO DO SURREALISMO 1919-2019 – Edición a cargo de Alfonso Peña.

 

Anna Apolinário – Fotografia de Nielson Lourenço

Floriano Martins – Fotografia  de Pascual Borzelli Iglesias

 

 

 
 
ANNA APOLINÁRIO (Paraíba, 1986). Poeta, produtora cultural, organizadora do Sarau Selváticas e colaboradora da Revista Acrobata. Publicou os livros Solfejo de Eros (Câmara Brasileira de Jovens Escritores, 2010), Mistrais (Prêmio Literário Augusto dos Anjos, Edições Funesc, 2014), Zarabatana (Editora Patuá, 2016), Magmáticas Medusas (Editora Cintra/ARC Edições, 2018) e A Chave Selvagem do Sonho (Triluna, 2020). Autora integrante do poema coletivo Las Máscaras Del Aire (Cintra/Arc Edições, 2020).
 
 
 
 

FLORIANO MARTINS (Fortaleza, 1957). Poeta, ensaísta, editor e tradutor. Dirige a Agulha Revista de Cultura. Contato: floriano.agulha@gmail.com.

 

 

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