4 poemas de Claudia Schroeder

Quando
casei comigo

esse foi o vestido.
Era de minha mãe
estava em uma caixa
em papel de seda 
azul.
Foi lembrado
nas fotografias
esquecido
nas relações.
Foi o vestido
das separações.
Agora guardo com zelo
duplo episódio
de desespero
entendendo que
ficando nua
tudo dura
mais tempo.Alento.

***
Apimentar
para amenizar
tanta falta de tempero
d’antes vivida.
Já não arde
a ferida fechada
esquecida.
Penso no agora
sob a anágua
e na boca

água.
 
 
Aqui estão
os guardados

todos:
cartas-casas de traças
dinheiro que não mais vale
um tostão
prataria envelhecida
de preto
lenços manchados
bilhetes que mal 
sei.
E ladrões insistem
que eu o abra.
Não lembro o segredo
e então morro
desapontada
pela arma.
 
***
 
Cérebro
em mau estado.
Miolos moles
cabeça dura.Órgão separado
do que goza
feito doida.

Dar as entranhas todas
sem refletir
meus espelhos
e quando vejo nítido
o corpo se fecha.

Parte de cima
e parte de baixo
em discussão
sem fim.

Eternos gozos
e interrompidos
coitos.

Imagens: Ottavia D.
 
 
Claudia Schroeder é autora de 3 livros de poesia; um aos 14, outro aos 17 e o último, Leia-me Toda, lançado pela Dublinense em dezembro de 2010, foi agraciado com o 3º lugar no Prêmio Fundação Biblioteca Nacional. Autora de 1 livro infantil A Menina que Descobriu o Sol, lançado pela Kazoca em maio de 2018. Premiada com o 2º lugar com o poema “Jantar”, no Concurso Nacional de Poesia Helena Kolody, além do mesmo ter sido publicado na coletânea “A Poesia é para Comer” ao lado de nomes como Hilda Hilst e Chico Buarque de Holanda. Finalista no Prêmio Off Flip de Literatura de Paraty, entre outras participações literárias.
 

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