4 poemas de Eduard Traste

Atemporal
peço perdão toda vez que
fecho os olhos
e consigo me desfazer da realidade
quando o ódio adormece
e os pássaros se fundem em metal pesado
e tinta amarela
quando a cantoria habitual
torna-se um ruído cortante
impossível de ser digerido
e meu pai incomodado desce da cruz
para discutirmos sobre aquele aluguel
que atrasei quando tinha
nove anos
de absolutamente,
nada.
 
 
receita de bomba caseira
deixe de trepar
deixe de se masturbar
deixe de fumar
deixe de beber
deixe de reclamar
alimente-se mal /
mal se alimente
– tanto faz? tente!
durma pouco
e tome muito café,
ou cuidado.
repetir até
explodir.

 
 
de um inferno ao outro
antes eu sempre sabia
quando o capiroto me espreitava.
agora vivo na dúvida: é ele
ou a debochada da minha vizinha
outra vez
de tamancos
novos?
 
sonata dos infernos
toco o dantesco piano
com minhas patas de cachorro
humano
esperando soar como satã
mas a música é simples
sem nenhum elã

ainda assim persisto
porque o agrado precisa ser feito
ainda hoje, ou nada

feito.

 
 
 
Eduard Traste descobriu que não tinha salvação. Desde então vem destilando os necessários pingos de vida para seguir em frente, de seus escritos e outros tragos. Escreve no projeto www.estrAbismo.net, e tem materiais publicados em revistas como: Alagunas, Escambau, LiteraLivre, Pantagruelista, Philos, Ruido Manifesto, Subversa e Jornal Plástico Bolha.
 
 

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