
Lírio-da-paz
entre
folhas escuras
reergo-me
e fragmento
a unidade
do tempo.
entre
sombras frescas
extraio a branca
bráctea
da tua
memória.
Nunca é sempre
I.
Adormeço dentro de mim.
E na brancura do silêncio,
à persistência do olhar,
tudo se desfaz: ideias vão,
palavras voam, símbolos
fragmentam-se e o ciclo
se cumpre.
II.
Acordo: espectro ou sombra;
alheio de mim ou recolhido.
Desço pelos portões e vou
à profunda campina. A água
atravessa-me por chuvas
e rios. O absurdo exterior
é um encanto.
III.
Adormeço, pois é no sono
que viro viajante em plena
travessia. Breve é o dia,
breve é o agora. Disperso ao
eterno brilho das estrelas.
Aceito o campo e as flores
como essência do real.
Metafísica
Esfera de prata
espirala
imaterialmente
dentro de nós.
Essencialmente
campos
dissolvem-se
na nossa visão.
Nada é novo:
tudo foi criado.
Espelho-abismo
nos encara.
O que houve?
O que haverá?
— O instante
puramente luz
nunca nos dirá.
Viagem de volta
O retorno me assusta
em cada mínimo aspecto;
voltar ao que foi ruim
ou mesmo ao que foi bom.
Regressar às águas
do passado. Rememorar
as aves no céu,
vindas da profunda origem
(meu Deus, como dói
reestabelecer a gênese!).
Dizer a palavra originária
é revelar
o que se esconde no ser.
O que é alheio
pode ser fácil, mas o que é
do ser, isso, sim, causa-me
o mais doloroso pânico.
O retorno é um espectro
dissolvendo o núcleo
das jornadas.
Uma luz forte,
estonteante, que nos leva
ao que nunca fomos.

Gustavo Adriano é poeta e professor de português e literatura. Tem 23 anos, nasceu em Rialma (Goiás), mas mora em Buriti Alegre. É estudante de Letras na Universidade Estadual de Goiás. Ainda não tem livro publicado. Segue em constante experimentação no mundo poético, a fim de transpor por meio das palavras o que só a poesia é capaz.
Instagram: http://@gustwrock.