4 poemas de Isabel Furini

 
Ilustração: Leon Bakst    

ROMPANTE POÉTICO

sem a loucura e o espanto
o poema é construção artificial

a Poesia é um barco
que enfrenta tempestades
com a alma nua
e o coração latejando ao ritmo da Lua

a Poesia exige arrancar as mordaças e as máscaras
exige insanidade, abismos e vertigens
para arremeter contra as colunas de Hércules
e navegar no oceano da imprevisibilidade

a Poesia precisa de sal, de pimenta
e de um vinho envelhecido
para vencer todas as fragilidades.


INCANDESCENTE

a Poesia não nasce só de observar um anjo sobre o ombro
a Poesia nasce também do grito abismal
do terror
do desassombro
– a poesia não é só palavras
ela é construída no fundo da alma
e possui um coração afoito
e magma incandescente em cada verso.


POETA E DOIDO

a insanidade foi seu estigma já na mocidade
era doido de quebrar anéis de ouro
e também era poeta e escrevia adoidado
seus poemas publicados em xerox
transcendiam

mas, às vezes, zangado pela falta de elogios
esquartejava os poemas e as folhas
com uma navalha com mango de prata
e os poemas sangravam.


PROTEÇÃO

no subsolo dos afetos
existe um espaço narcisista
dedicado ao príncipe das ilusões
e quando a vida nos fere
com seus fortíssimos ferrões
nossa parte narcisista
(como mãe protetora)
eclode em autoelogios
para elevar a autoconfiança
e alterar o vulcão das paixões
o ser humano tem lava escondida
nos interstícios das emoções.




Isabel Florinda Furini é professora, escritora, poeta e palestrante, foi premiada em concursos de Poesia e de Contos no Brasil, na Espanha e em Portugal. Realizou recitais de Poesia na 36a Semana Literária do SESC e na Burlingame Public Library, na Califórnia, Estados Unidos. É autora do livro de poemas Os Corvos de Van Gogh,  Membro da Academia de Letras do Brasil/ PR; Presidente da Academia Virtual Internacional de Poesia, Arte e Filosofia; foi nomeada Embaixadora da Palavra pela Fundação Cesar Egido Serrano (Espanha); seus poemas foram publicados em revistas, jornais e sites.

Respostas de 8

  1. O segundo poema dá a impressão de ser uma continuidade do primeiro, como se fossem um só, na verdade. Poesia sobre poesia. Poema sobre como deve ser um poema. O verso é livre, e assim também deveria ser a abstração da matéria poética que leva cada um a escrever o que quiser da forma que quiser e sobre o que quiser, sem regras. Não conhecia a autora.

  2. Obrigada, Maria Beatriz. Você tem uma mente muito afinada – parabéns pela acuidade poética. Realmente era um poema e eu dividi em dois, porque achei que separados ficariam mais fortes. Grata pelo comentário.

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