Ilustração: Hero, Alma Tadema.
Inesgotável
Já fui tão antiga querendo ser feliz.
Mas ele chega louco demais para o meu corpo.
Me arrasta, porque sabe que serei magma
Neste doce deslumbramento das marés altas.
E feito um guerreiro suas mãos tocam
Onde só existe falta.
Esse homem me habita com fúrias e pássaros.
(Céu despido)
O Olhar maduro da onça
Não se escreve um poema de amor impunemente
No desvão da noite uma onça perpetua a sombra de fogo
sobre teu caminhar espaçado.
Há uma súplica com os devidos ais prudentes,
A onça sabe onde derrama seus passos
Crava os dentes nesta carne que tem cheiro de batismo
o sangue suado de caça.
Que rara luz expressa teu corpo
A onça é aos poucos domesticável
Não se escreve um poema de amor inutilmente.
(As Maçãs de antes)
Já fui tão antiga querendo ser feliz.
Mas ele chega louco demais para o meu corpo.
Me arrasta, porque sabe que serei magma
Neste doce deslumbramento das marés altas.
E feito um guerreiro suas mãos tocam
Onde só existe falta.
Esse homem me habita com fúrias e pássaros.
(Céu despido)
O Olhar maduro da onça
Não se escreve um poema de amor impunemente
No desvão da noite uma onça perpetua a sombra de fogo
sobre teu caminhar espaçado.
Há uma súplica com os devidos ais prudentes,
A onça sabe onde derrama seus passos
Crava os dentes nesta carne que tem cheiro de batismo
o sangue suado de caça.
Que rara luz expressa teu corpo
A onça é aos poucos domesticável
Não se escreve um poema de amor inutilmente.
(As Maçãs de antes)
Ainda é amor
O cheiro inteiro da noite nas paredes do quarto
Depois caminho pela casa
como se estivesse em todas as ruas
Este homem pesa sobre minhas pálpebras.
como se estivesse em todas as ruas
Este homem pesa sobre minhas pálpebras.
(As Maçãs de antes)
Vidência
Já me curvei o suficiente para entender a vida.
Nem quero o velho ofício que passa de pai pra filho.
Gosto das frutas que amadurecem secretamente
conheço o que dentro de mim se fecha
e é esculpido diariamente.
Desde que nasci tenho um verbo presente: morrer
e tantas vezes me sinto montada na fera,
outras apenas arrastada como a cômoda de peroba
que não cabe no quarto.
Acreditar naquela pequena luz de uma estrela anã
é dizer sem pressa uma reza mansa.
Nem quero o velho ofício que passa de pai pra filho.
Gosto das frutas que amadurecem secretamente
conheço o que dentro de mim se fecha
e é esculpido diariamente.
Desde que nasci tenho um verbo presente: morrer
e tantas vezes me sinto montada na fera,
outras apenas arrastada como a cômoda de peroba
que não cabe no quarto.
Acreditar naquela pequena luz de uma estrela anã
é dizer sem pressa uma reza mansa.
A maranhense Lila Maia é graduada em Pedagogia e tem três livros publicados: A Idade da águas, Céu despido, vencedor do II Prêmio Literário Livraria Asabeça 2003 e As Maçãs de antes, livro vencedor do Prêmio Paraná de Literatura 2012 na categoria poesia e semifinalista do Prêmio Portugal Telecom de Literatura 2013.