4 poemas de Solange Firmino

Crisálida


Larva-palavra
Presa no cárcere do eu.
O ritmo pulsa
do abismo interno,
casulo prestes a acordar,
e desata em
poema-borboleta.






Vida afora


No verso
distorço
o reverso,
e na vertigem
sossego,
excluo palavras ébrias,
sublinho letras.


Nenhuma dor me soletra.
Quero somente
as palavras encantadas das
cantigas de ninar.


Desato no choro,
no desmedido espaço
entre a dor

e o poema.



Ilustração: Aly/deviantART





Devagar


Coleciono asas,
mas nenhuma me pertence.
Guardo-as para um
possível mergulho,
mas o abismo me desampara.


Impossíveis aventuras me sufocam,
apesar da rebeldia.
Juro que nunca quis ser a princesa
dos contos de fada.
Não sou ilha pronta para abarcar.


Então nos meus olhos
recapitulo a coreografia dos ventos;
transcrevo as linhas do deserto
para a pátria.


Vou devagar, no encalço arriscado
das aves que voam alto,
em busca da Terra Prometida.

Melhor morrer de cansaço que de solidão.






Abrigo


Um passo em falso
e posso cair
com assombro
no poente
do abismo.


Vigio a insônia
e o relógio fatigado
antes de cortar os pulsos.


O que me salva é
o brilho

de outra manhã.





Solange Firmino é graduada em Letras pela UERJ. Participou de publicações de contos, poemas e ensaios no Brasil e Portugal. Tem 4 livros de poesia: Fragmentos da insônia, Das estações, Geometria do abismo e Alguns haicais e mínimos poemas (venceu no concurso de poesia da Fundação Cultural do Estado do Pará).Seu blogue é www.solfirmino.blogspot.com .

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