SATURNO
vogue vagando
especial/especialista
em rombos e sem causa
na verde verdade de tempos
corridos
escorrega-se na imagem
frestas e festas na miragem
deus vestiu o preto de saturno
ciente
e silêncio na montanha
-piedade
um coro de injustos barra o arco
volátil
frio e distante – acolhido ancião
e nubente no cerco/arco
da profecia (ventania).
CALCÁRIO
no rastro de alguma lembrança
tênue ou multifacetada
já é um outro recorte
ou sussurro ou vislumbre mediano
de caminhos
(estranhos) entranhados na
vertigem
quase
origem
originária de um deus ou de um
demônio
sulco lavrado arado arrefecido
mutantes mudas alforrias
alcançadas
quase uma visagem
paragem performance da escuta –
livre
(livresco é o informe da jornada)
por aí desviamos de alguma curva
crucifixo crucificada
calcário estremecido – os dementes
é lua e lazaro na essência
transparência
da incrédula crendice da tua boa
vontade
(o nome de um santo é tão audível
quanto as cem mil jornadas de teus
fardos).
MEIOS
ainda que todos os caminhos
estreitem e estrangulem
ao rio se chega por meios caminhos
e se deita…
VÉSPERA
surdo e rítmico
o além som da liberdade
tarde ou véspera
uma sinfonia cantada por tribos
e traços enfestados de desprezo e
apreço
por si mesmo/os/capivaras
atlânticas
de arranha-céus baratos (opacos)
pequenas vidas espumando em alguma
avenida
que o mundo corre – algumas vezes
alguém socorre
ou não ou também
alvos vestígios de agonia
alforriados para o próximo decênio
ou triatlo ou pecado
as bobagens revestidas de ouro e
brilho
carcomido o pão de algum dia
risonho o céu e sua alforria
(vinte e hum avos alvéolos alvarás
arquétipos e artimanhas pelas
próximas barganhas).
VERTICAIS
fios se esfacelam no último cálice de vinho/branco
talvez para anunciarem a melodia retilínea
(visível nas fagulhas do primeiro
chá do anoitecer)
para oeste as flores planam, azuis
e violetas,
quase imunes aos espectros (visíveis)
e sem sombra para além de algum
dia
já não temos as configurações e os
ensaios – repetitivos –
em torno do movimento
requisitado por atores e
ambulantes de falas imprecisas
ou que não se referem à signos que
construiríamos (e nem somos os andaimes
de suas mancas expressões)
procuramos o sol pelo poente de
sua virgem luz
pois de sua vibração queremos o
tênue, o arremate fácil e conciso
da precisão de sua mente (e
através dela imporemos o sonho)
a vírgula, e o acaso, são as
amplas verticais
de peso leve…
por onde quietamos.
JANDIRA ZANCHI
Ilustrações: Giorgio De Chirico
Respostas de 3
Muito musicais, como é apanágio da sua poesia. Gostei, Zandira.
Obrigada, amigo, e eu gostei da tua leitura.
A musicalidade saltitante é de fato a primeira entrada da leitura. Depois a sonoridade sisífica nos permite encararmos os manejos espaço – temporais no sentido de "a vida como ela é". A partir daí, percorremos a lógica de nossos labirintos e o que nos há de aparências exteriores. A poesia e a realidade incorruptível ao enfeite poético. As temáticas projetadas por câmeras não de segurança, porque não se foge das antinomias e esse "não poder" é mais do que dor ou prazer; é a poesia refém e publicável no dia dia de todo mundo.