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Ilustração: Rick Haigh |
eu não quis fazer você chorar
sombras têm
recortado das pedras
equilíbrio e estruturas habitáveis
se demorasse o junco
o mundo não iria acontecer
eu mudaria seu nome de juventude
para memória
você ainda não leu os ossos
o chão é sério
formigas rasuram de tanto trabalhar
a cortina parece um fole
se o ar tem uma caixa harmônica
e um tórax
se você desalinhar a métrica
você diminuirá a saudade
lina
nessa trave ainda antiga
que eu vi um edifício alto
como um máquina
implorando uma pena
talvez eu saiba abrir
aquela última janela ali
…a lua
indício
nesse buraco
estava todo o dia
o sol se pondo
mais um amor que
poderia ser salvo
o olhar que funciona como
uma criança e é curvo
igual a cidade
é possível roçar num circulo
você pode fazer vigília como faz o sistema solar
e ele ainda estará lá sentando numa posição sincera
atravessando – se toda vez como faz um triatleta
mas é triste não poder guardar as coisas na esplanada
ou onde dá pé
porque os homens não têm saudade do solo
Leonardo Bachiega é poeta, arquiteto e urbanista, pós – graduado em Barcelona. Nasceu em 1980 na cidade de São Paulo – Brasil, onde mora hoje, é autor de Poema Número Um (2016), seu livro de estreia, também publicado em Portugal e A cidade desabotoada(2018). Tem poemas publicados em diversas revistas literárias como InComunidade, Literatura e Fechadura, Mallarmargens, Alagunas e Garupa