5 poemas de Solange Firmino


Sobre a lápide de Frida Kahlo
(Para o aniversário de nascimento de Frida Kahlo – 06/07/1907)

Muitos sóis já nasceram e morreram
dia após dia
entre os azuis
verdes
vermelhos
e amarelos
hoje desbotados
da Casa Azul de Frida
A cama com as borboletas
acima de sua cabeça
antes intimidade
agora é peça de museu

Pergunto-me se fazia sol
quando ela se foi
quantas cores se despigmentaram
atônitas
naquele dia
como uma névoa negra



VIVA LA VIDA

(Para o aniversário de morte de Frida Kahlo – 13/07/1954)

(Viva la Vida é nome do último quadro pintado por Frida Kahlo.)

Sobre minha cama
de borboletas
no meio da insônia
procuro em vão meu corpo
meus pés exaustos

Em procissão
entram no meu sonho
as cores que amo
os animais
as árvores
as flores

Pintei minha tragédia
de todo jeito
fui dadaísta
surrealista
e nomes que nunca admiti
minha vida foi curta
e dolorosa
mas nunca amei pela metade

Estou livre enfim
para as asas
que me tocam agora*

Solange Firmino

* Referência à frase de Frida: “Pés, para que os quero, se tenho asas
para voar?”



Estátua
(Para “O Pensador”, de Auguste Rodin)

Penso em como não fugi
com os pés medrosos
eu tenho medo desse silêncio
em torno de mim
acabei virando
esse corpo imenso
espalhado pelo mundo
e eu nem sábio sou
só quero uma casa
onde possa me acasalar
mas meu corpo é duro
receiam me tocar
aguardarei uma eternidade
nesse castigo
pois nem sangro
encolhido
frio
nu


Vigília 
Há sede na fonte e na trilha do solitário
viajante. 
Só quero uma réstia de vento nesse dia de
sol. 
Benditas as folhas abandonadas pelo vento de
outono. 
Misturo as datas do calendário. 
Já não sei quando nasci e vou morrer, 
estou sonâmbula em um labirinto sem volta. 
Não é fácil amar o carrasco suicida 
sem máscara 
que rasga minha voz, 
sangra minha palavra 
e todos os nomes que amei. 
Quero abrigo, 
mas não rezo 
nem faço planos. 
Esse silêncio é tão frágil.

Espólio

Morri muitas vezes
na infância
mas ainda estou aqui
pois nenhuma vez
foi de morte morrida

Todos os dias sei que
mato a mim mesma
e Samanta
meu outro eu
que não morreu
se escondeu
embaixo da cama
nesse caos
e implora nos retratos antigos
sua sombra
para que possa
se salvar
entre os fragmentos
de sua própria
guerra interior


Solange Firmino é graduada em Português/Literatura, com experiência em Sala de Leitura,
Ensino Fundamental e Ensino Médio. Participou em publicações de contos, poemas
e ensaios. Tem 4 livros de poesia publicados; foi  1º lugar na
Fundação Cultural do Estado do Pará, com o livro Alguns haicais e mínimos poemas.

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