Ilustração: Banjnox |
ARVORECER
ser flora
ou apenas uma folha
falha
filha do
vento…
desnudo canto
de pássaro
ou pouso
cúmplice da
solidão.
arvorecer…
árvore ser
arvorecência…
árvore e essência.
DESERTOS
decerto
reamanhecerei
como quem
ensaia uma canção
nos desertos…
e para a
sorte do dia
algo a me lembrar
que na areia
não vicejam bustos
[talvez
pálidos arbustos]…
– deles não
preciso
comigo
apenas o prazer do silêncio
e o aceno de
alguns acordes azuis
– uns dez ou
vinte…
ah, pra que
ouvintes
que nada
entendem
de solitude!?…
PARTITURA DA SOLIDÃO
e a partitura
da solidão
– esta repentina substância da quimera –
deixe que eu a componho…
ponho
pétalas no azul dos instantes
e acompanho
as indomáveis partidas
visitadas de
silêncios…
não simularei
rochedos
nem medos…
nem inundarei meu olhos
com abrolhos do sangue frio do ócio…
só
sou sócio do cio dos acordes noturnos
e dos enleios das manhãs…
pulsam-me
veias em consórcio
com enigmas e segredos
‒ de não ser degredo.
O livro de Rubenio Marcelo na Biblioteca de Coimbra |
AZUL DEVE SER
O SONHO DOS PARDAIS…
há um ardor
e uma dor
em cada pedra
e em cada
ruflar de asas…
há o mesmo
reino
entre uma
formiga
e um morcego
e uma gaivota
mas não há
a mesma
melodia nos faróis
quando os
mares ofertam
às tardes os mesmos mistérios
antes de
entender o sol
de azul deve ser o sonho dos pardais…
a poesia
é dor e sal
é dorsal…
leva ao dorso
do infinito
o pulsar do
girassol
que estava em decúbito…
nenhuma
sombra
assombra o
silêncio das pedras aladas…
DA LEVEZA DO PENSAR
tomo o peso de um ‘a’
peso de um
átomo…
de um ‘a’
tomo o peso
e passo de
‘a’ a ‘z’…
e penso em p a z . . .
MUSINSPIRAÇÃO
és nua
companhia
meta e
metabolismo
de fecundo
gameta
no útero do silêncio…
és figura e
ação
figuração
real
ação inteira
e interação
colóquio e
liberdade
tatuagem e
mistérios
do tempo que dança
nas minhas retinas…
és a eficácia
da percepção
mais leve
que se desvia
dos latentes
ruídos
[subliminares
e corroídos]
e das
recomendas do ego
és paisagem e
passagem
e não te
exalto,
ó musa,
apenas
ressalto
o leve toque
do teu semblante
ao êxtase das
palavras…
vezes,
te vislumbro
em núpcias
com o luar
ou em
caravela no balé do horizonte…
silhueta de
uma gaivota
errante
distante
inalcançada…
vezes, teu
destino
é o meu destino:
completas a incompletude
dos meus passos,
passeio contigo
lado a lado – a l a d o . . .
DO FIM AO PRINCÍPIO
VIBRA AÇÃO
do fim ao
princípio,
das tensões
às intenções,
do precípuo
ao precipício,
da ação revel
à revelação
[do ritmo ao
ritual…
enfim]
em tudo vibra
uma ação:
tudo vibração espiritual…
a presença da
incerteza é mega
e limitada,
aprisiona.
a certeza da
essência é ômega,
é âmago…
liberta…
e há pão e
vinho
caminho
distinto…
pão é matéria
palmatória
vinho
instinto…
2021/2022/2023 e para o triênio do PASSE. É membro correspondente da Academia Mato-Grossense de Letras (AML). Foi Conselheiro Estadual de Cultura de Mato Grosso do Sul. Reside em Campo Grande/MS.