7 poemas de Wilson Guanais


Num tempo sem relógios  
Sim bebi de suas águas
Comi de suas terras
Resgatei alguns objetos

Sempre depois da chuva
Quando o trator feria
O miserável chão do pasto

E toda noite eu os ouvia
Quebrando as pedras

Mas era eu ali trabalhando
Milênios sob meus pés.

Última instância   

só escrevo
minhas perdas

quando
não tenho mais

onde guarda-las

Ternura   
Amo quando
os olhos
brilham…

e mesmo
em silêncio
a gente

não sabe
ou consegue

mudar
de assunto.



Escrevo  
até que
um dia
olho o

espelho
e me
percebo

quatro
meses sem

: limpar
a casa.

Inverno     
meu único
uniforme
de trabalho

( quase
branco )

secando
atras
da geladeira

que
não tenho

Crescente   
– Papai, papai
a lua papai.
: Que tem a lua, neném?
– Tá quebrada…
: É mesmo?
– É, mas se você me der
as ferramentas…
: Que ferramentas?
– As de brinquedo, papai
eu conserto ela.




Doméstico    
minha
mãe
voltou
pro
interior

eu
mesmo
limpo
a casa

: varri
o lixo
pra
debaixo
do
poema.




Ilustrações: Taylan Soytürk

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Wilson Guanais – Bastos, SP 1972. Mais de 10 livros publicados e participação em  150 antologias. Com  a Penalux publicou os livros:Em noites de sol, De sonho e de lama, A casca da casca (ou o lado de dentro),Em branco silêncio.

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