5 poemas de “Fronteiras” de Jandira Zanchi

 

SATURNO

 

vogue vagando

     especial/especialista

em rombos e sem causa

na verde verdade de tempos
corridos

 

escorrega-se na imagem

frestas e festas na miragem

 

deus vestiu o preto de saturno
ciente

e silêncio na montanha

          -piedade

um coro de injustos barra o arco
volátil

frio e distante – acolhido ancião

e nubente no cerco/arco

da profecia (ventania).

 

 

CALCÁRIO

 

no rastro de alguma lembrança

tênue ou multifacetada

  
 já é um outro recorte

ou sussurro ou vislumbre mediano
de caminhos

(estranhos) entranhados na
vertigem

        quase
origem

originária de um deus ou de um
demônio

sulco lavrado arado arrefecido

mutantes mudas alforrias
alcançadas

 

quase uma visagem

paragem performance da escuta –
livre

(livresco é o informe da jornada)

 

por aí desviamos de alguma curva
crucifixo crucificada

calcário estremecido – os dementes

 

é lua e lazaro na essência
transparência

da incrédula crendice da tua boa
vontade

(o nome de um santo é tão audível

quanto as cem mil jornadas de teus
fardos).

 

MEIOS

 

ainda que todos os caminhos

estreitem e estrangulem

ao rio se chega por meios caminhos

                      e se deita…

 

 

VÉSPERA

 

surdo e rítmico

o além som da liberdade

          tarde ou véspera

uma sinfonia cantada por tribos

e traços enfestados de desprezo e
apreço

por si mesmo/os/capivaras
atlânticas

de arranha-céus baratos (opacos)

 

pequenas vidas espumando em alguma
avenida

que o mundo corre – algumas vezes
alguém socorre

 

ou não ou também

alvos vestígios de agonia

alforriados para o próximo decênio

ou triatlo ou pecado

as bobagens revestidas de ouro e
brilho

 

carcomido o pão de algum dia

risonho o céu e sua alforria
(vinte e hum avos alvéolos alvarás

arquétipos e artimanhas pelas
próximas barganhas).

 


VERTICAIS 

 

fios se esfacelam  no último cálice de vinho/branco

talvez para anunciarem  a melodia retilínea

(visível nas fagulhas do primeiro
chá do anoitecer)

 

para oeste as flores planam, azuis
e violetas,

quase  imunes aos espectros (visíveis)

e sem sombra para além de algum
dia

 

já não temos as configurações e os
ensaios – repetitivos –

em torno do movimento


requisitado por atores e
ambulantes de falas imprecisas

ou que não se referem à signos que
construiríamos (e nem somos os andaimes 

de suas mancas expressões)

 

procuramos o sol pelo poente de
sua virgem luz

pois de sua vibração queremos o
tênue, o arremate fácil e conciso

da precisão de sua mente (e
através dela imporemos o sonho)

a vírgula, e o acaso, são as
amplas verticais

de peso leve…

                           por onde quietamos.


JANDIRA ZANCHI


Ilustrações: Giorgio De Chirico

Respostas de 3

  1. A musicalidade saltitante é de fato a primeira entrada da leitura. Depois a sonoridade sisífica nos permite encararmos os manejos espaço – temporais no sentido de "a vida como ela é". A partir daí, percorremos a lógica de nossos labirintos e o que nos há de aparências exteriores. A poesia e a realidade incorruptível ao enfeite poético. As temáticas projetadas por câmeras não de segurança, porque não se foge das antinomias e esse "não poder" é mais do que dor ou prazer; é a poesia refém e publicável no dia dia de todo mundo.

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