Outdoor
Vi uma pomba branca
Anarquista
Por entre o caos da existência
Sinalizei com o som mais agudo que pude
Do poema seco
Tossindo como tuberculose
Das malditas artérias entupidas
Das narinas que escorrem sangue
Das últimas palavras proclamadas pelo doente que urina nos meus ideais
Sonho com o dia que as placas de metal caiam como tantos de nós
Que no fundo dos esgotos os ratos durmam em seu cadáver
Enquanto em meu casebre fecho a porta do banheiro
Feng Shui.
Absolutamente Nada
Aqui não existem mais pássaros voando do lado de fora
Nem formigas comendo uma folha
Nenhum gatilho dispara a noite pela vizinhança
A mulher do mercadinho não cobra mais noventa centavos por pagar o cigarro no cartão
Os dias seguem
E eu não lembro o que a palavra “afeto” significa
Não vejo o céu azul
Nunca mais olhei pro sol
Nem fui a praia
Não quero mais fazer nenhuma tatuagem
Desisti de algumas coisas
Estudei algumas matérias acumuladas
Fingi estar vivo
Sorri
Deitei sozinho ouvindo Caetano
Machuquei a língua
Duas vezes
Duas
…
Não cantam mais pássaros por essas bandas
Não tocam mais violinos enquanto cozinham
Não durmo, como e muito menos penso
Os dias seguem
Quebrei o varal
Acabou o café
A mulher do mercado sequer existe
E eu muito menos.
Ian Veink é um monstro submundano que veio para a terra provar das mais variadas emoções humanas desconhecidas do seu lugar de origem. Embebido pelos sentimentos subversivos de sua transmutação social do submundo para o planeta terra, tenta decifrar as mais variadas formas de construção social conhecidas registrando suas experiências em seu humilde site na plataforma do WordPress: lagrimasereticencias.wordpress.com