
MIÚDAS
em todas as cenas o cumprido descumpre-se
inalterado – e de muita fé – é um imenso sussurro
1000 x 1000 e muitas vozes quebram os cortes
descontínuas em uníssono
– pardo tempo de sonho
acalentado e brando sonha maiúsculas têmporas de vento
andaluzas marcas de miúdas e mal feitas crases nas sondagens
cruas do verbo (um ósculo de fé) um afeito arquejo
sombra e sonífero descosturado no céu perdido de eras
aonde feras se dobram aos sinos das verticais das muitas formas.
CARTILHA
na sombra e no recuo o medo
– afastam-se do eixo e de alguma esperança
atentos oprimidos quase calados
amansando-se do nada e da faca
a dúvida da certeza – é quase o fim
– tão marcado e retilíneo
como qualquer outro método ou inseto
e quase tão vulgar e mascarado
no espelho como a própria sombra
essa alguma encrespada surtada e
mal ferida inibida ainda crente
ciente canfora e aço na prontidão
não são três linhas ou uma tola cartilha
que ditam o verso reverso controverso
tanto se diz ou condiz ou confirma ou inimiga
quase branda no estigma
não é tola a vida embora equivocada
com suas não muito bem costuradas
partidas e boas vindas – é sim confusa e difusa
ambivalente sem tridentes ou sacerdócios
um ócio na linha mais branda, mas enfim,
de nenhum método ou escolha se vale só prossegue cheia
de antepastos e alguns ratos
berlinda de muitas pontas e poucas escolhas
que se entenda e não se surpreenda
não é retilíneo nem discursivo
o processo
o ingresso
a feliz ou infeliz permanência.
CIRCO
credor da ilusão corre sem feitos esse tempo de discursos
emaranhados nos fios de ritos apocalípticos e políticos
misturados a programas ideogramas pentagramas
artimanhas sem a malícia de alguma manha
só façanhas – tão tacanhas
apostas de cálice vazio/entropia e misantropia
barganhas nos dados impostura nos fatos
bagunçados por alvoroço e metamorfose
estampados em chamadas – mídias corrompidas
quase banidas da feira das verdades
crédulos sisudos compostos em suas barbas
(mais molho e engodo na cartilha mal assimilada
estuprada fraseada de espantos e fandangos)
enfim uns cozidos espevitados manuseados
em todos os verbos e provérbios vomitados
nas redes de tocadores ambulantes e fraseadores
policiados por diretórios inventados e vazados
não tem entre essas formigas amigas nenhum transeunte
apartado ou fadado ao léu ao céu ao mártir ao santo
heróis estão enterrados ou acamados
o teatro dos bonecos mal costurados é mais fantoche
que o circo psicótico dos explosivos mandantes destinados.
LANÇAS
(contagem de lanças)
brados ou bramidos não serão ouvidos
as 700 e tantas repartições do céu
encharcadas por algum novo santo
e naquele instante em que todos
sabem tudo a escada só tem uma base
(ou 2 ou 3) e escorrega/renega
fios rútilos e latentes, na verdade uma
espiral de deuses e não uma maca
ou maçaneta antes arca e arcabouço
livre e não leviana – quase justa
encrespada de mantos e manteiga
azeitada como perdida de fé e faísca
mas ainda prima e primavera
quase santa expoente de chacras
mal feita no release úmido
do mesmo termo – um novo tempo
e se repete se repete se repete
e então enxagua (amarelo ovo)
composto em doce amaro
de outros anjos.
Poemas de A Sexta hora (Editora Urutau).
Jandira Zanchi é poeta, ficcionista e editora. Tem nove livros publicados: os livros de poesia, A Sexta Hora, Fronteiras, Luas de Maçã, O Vapor da Noite, Área de Corte, Gume de Gueixa, A Janela dos Ventos e Balão de Ensaio, o livro de contos, Egos & Reversos. Atua há catorze anos em revistas literárias virtuais e participa da antologia 101 poetas paranaenses.
Coedita: https://amaitepoesiaecia.com.br/ .
