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Arthur Rimbaud |
A criação do mundo segundo o esquecimento (germinação)
domingo:
“A
arte é uma estupidez”. Jacques Vaché
arte é uma estupidez”. Jacques Vaché
Esta frase funciona para mim como os
silogismos do Cioran, a estupidez está profundamente ligada à vida como a
mistificação e o ilusionimo-onirismo das religiões. Enfim coisas que estão cada
vez mais ligadas ao chamado ‘fazer artístico’, talvez num futuro breve, quando
a própria humanidade estiver reduzida a sua condição de iminente extinção. Esta
frase será capaz de dar origem a uma ou duas seitas estóicas.
silogismos do Cioran, a estupidez está profundamente ligada à vida como a
mistificação e o ilusionimo-onirismo das religiões. Enfim coisas que estão cada
vez mais ligadas ao chamado ‘fazer artístico’, talvez num futuro breve, quando
a própria humanidade estiver reduzida a sua condição de iminente extinção. Esta
frase será capaz de dar origem a uma ou duas seitas estóicas.
domingo:
Porque a autenticidade mais pura que
prescinde até da nossa presença nasce da experiência da exclusão absoluta e
convoca a destruição da vida controlada, essa que cantava como uma máquina a
árvore do paradoxo apenas para completar em nós a falsa-paralisia do
simbólico nome das coisas. homem e mulher reféns desse irremediável
tentáculo. A vagueza e a dispersão ofuscam os raios daquilo que podemos chamar
de ‘linguagem do real’ ou ‘afeto’ onde existe um limite, uma fronteira, uma
linha de opaciamento que só os mais raros atravessam,
envolvidos por todos os raios, esses raros são aquilo que podemos chamar de
‘aqueles que estão no centro de um deserto’ o espanto aumenta a intensidade dos
raios e a distância os torna visíveis, os limites diminuem a intensidade dos
raios.
prescinde até da nossa presença nasce da experiência da exclusão absoluta e
convoca a destruição da vida controlada, essa que cantava como uma máquina a
árvore do paradoxo apenas para completar em nós a falsa-paralisia do
simbólico nome das coisas. homem e mulher reféns desse irremediável
tentáculo. A vagueza e a dispersão ofuscam os raios daquilo que podemos chamar
de ‘linguagem do real’ ou ‘afeto’ onde existe um limite, uma fronteira, uma
linha de opaciamento que só os mais raros atravessam,
envolvidos por todos os raios, esses raros são aquilo que podemos chamar de
‘aqueles que estão no centro de um deserto’ o espanto aumenta a intensidade dos
raios e a distância os torna visíveis, os limites diminuem a intensidade dos
raios.
domingo:
Sonho que
estou entrevistando Rimbaud:
estou entrevistando Rimbaud:
(Sonho
anotado)
anotado)
Marcelo Ariel:você é colocado como um “poeta
à frente do seu tempo”. Porque permaneceu nas barbas de verlaine por tanto
tempo, ao invés de alçar voos solitariamente?
à frente do seu tempo”. Porque permaneceu nas barbas de verlaine por tanto
tempo, ao invés de alçar voos solitariamente?
Rimbaud:tentei morrer para o meu tempo e
para qualquer tempo e encontrar o Eterno…
para qualquer tempo e encontrar o Eterno…
Marcelo Ariel: O fato de ter abandonando a miséria
e o meio literário pelo comércio de drogas e de putas no deserto, revela sua
concreta descrença no ser humano naquele momento?
e o meio literário pelo comércio de drogas e de putas no deserto, revela sua
concreta descrença no ser humano naquele momento?
Rimbaud: Sim, mas no comércio de drogas, armas e putas brancas encontrei
um lugar mais verdadeiro e seres que carregavam dentro do olhar toda a tristeza
do mundo, como os bois e oscavalos… no meio literário só encontrei casulos ocos
recheados de lama dourada.
um lugar mais verdadeiro e seres que carregavam dentro do olhar toda a tristeza
do mundo, como os bois e oscavalos… no meio literário só encontrei casulos ocos
recheados de lama dourada.
Marcelo Ariel:O fato de ter abandonando a miséria
e o meio literário pelo comércio de drogas e de putas no deserto, revela sua
concreta descrença no ser humano naquele momento?
e o meio literário pelo comércio de drogas e de putas no deserto, revela sua
concreta descrença no ser humano naquele momento?
Rimbaud: Sim, mas no comércio de drogas,
armas e putas bran-cas encontrei um lugar mais verdadeiro e seres que
carregavam dentro do olhar toda a tristeza do mundo, como os bois e os cavalos…
no meio literário só encontrei casulos ocos recheados de lama dourada.
armas e putas bran-cas encontrei um lugar mais verdadeiro e seres que
carregavam dentro do olhar toda a tristeza do mundo, como os bois e os cavalos…
no meio literário só encontrei casulos ocos recheados de lama dourada.
Marcelo Ariel:Acha que entrando no deserto físico,
adentrou seu deserto interior? ou abandonou-o?
adentrou seu deserto interior? ou abandonou-o?
Rimbaud: Acho… como você diz… no sentido de
encontrar… que adentrando na materialidade do deserto físico encontrei um
jardim de silêncio que acalmou a minha fúria, como o céu acalma um mar bravio
com suas mãos de vento.
encontrar… que adentrando na materialidade do deserto físico encontrei um
jardim de silêncio que acalmou a minha fúria, como o céu acalma um mar bravio
com suas mãos de vento.
Marcelo Ariel: Pagaria novamente o
“preço” da própria vida (sacrificada) em prol de uma obra?
“preço” da própria vida (sacrificada) em prol de uma obra?
Rimbaud: Sim se essa obra anunciasse o amor
sem nome… nesse caso não seria um sacrifício, mas a chegada da alegria como um
fogo que devora tudo o que é falso e difícil de ser amado e deixa intacto em
cada coisa um cristal de pureza.
sem nome… nesse caso não seria um sacrifício, mas a chegada da alegria como um
fogo que devora tudo o que é falso e difícil de ser amado e deixa intacto em
cada coisa um cristal de pureza.
Marcelo Ariel: Se existia um mundo além das
palavras para você, o que sonhava ou cria fora dele (do mundo das palavras)?
palavras para você, o que sonhava ou cria fora dele (do mundo das palavras)?
Rimbaud: O mundo além das palavras é a única
coisa fora do sonho.
coisa fora do sonho.
domingo:
era a claridade profunda do
vento interior movendo as folhas da árvore… era o silêncio dentro dela
como uma abertura radical para o outro lado da paisagem, o lado fora dos
nome, ela disse isso com os olhos no lugar das palavras tentando
cancelar o horror. Era a possibilidade de uma fusão de alma, vindo como
a tempes-tade de significados, a última coisa que ele-ela viu foi um rio de Pirilampos
e depois do filme do impossível chamando o poder da brisa oceânica através da
fragilidade, tudo reunido num corpo vitrificado. depois a meio a
chuva foi aumentando e subindo para o alto, até o Sol.
vento interior movendo as folhas da árvore… era o silêncio dentro dela
como uma abertura radical para o outro lado da paisagem, o lado fora dos
nome, ela disse isso com os olhos no lugar das palavras tentando
cancelar o horror. Era a possibilidade de uma fusão de alma, vindo como
a tempes-tade de significados, a última coisa que ele-ela viu foi um rio de Pirilampos
e depois do filme do impossível chamando o poder da brisa oceânica através da
fragilidade, tudo reunido num corpo vitrificado. depois a meio a
chuva foi aumentando e subindo para o alto, até o Sol.
domingo:
O anseio de transcendência e a
avareza caminham lado a lado, afetividade e desejo de distanciamento caminham
lado a lado, eis o Speculum da comunicatividade que podemos
ver em cada rosto que se aproxima, mas não o suficiente para o
mergulho-dissolução nos cafés Buda ou Jesus, ambos cada vez mais longes das
religiões que utilizam seus nomes-marca para algo menor. uma coisa curiosa, ao
ter meu perfil clonado fora do espelho, não percebi as relações entre a
tecnologia da comunicatividade e a vida das Amebas ou melhor, com uma espécie
de fantasmagorização interior da vida das amebas.
avareza caminham lado a lado, afetividade e desejo de distanciamento caminham
lado a lado, eis o Speculum da comunicatividade que podemos
ver em cada rosto que se aproxima, mas não o suficiente para o
mergulho-dissolução nos cafés Buda ou Jesus, ambos cada vez mais longes das
religiões que utilizam seus nomes-marca para algo menor. uma coisa curiosa, ao
ter meu perfil clonado fora do espelho, não percebi as relações entre a
tecnologia da comunicatividade e a vida das Amebas ou melhor, com uma espécie
de fantasmagorização interior da vida das amebas.
domingo:
O Silêncio é como a água, sempre
provocando em nós a sensação de impermanência e suave afastamento, como em
Rimbaud como em Saint John Perse…
provocando em nós a sensação de impermanência e suave afastamento, como em
Rimbaud como em Saint John Perse…
A água é a materialidade do espírito
respirando em uma interioridade-exterior. O silêncio é como a água e para
tentarmos abraçá-lo, inventamos o fracasso da música que é apenas uma
maneira de deixar que sua essência de água nos escape e retorne para um alto e
invisível oceano.
respirando em uma interioridade-exterior. O silêncio é como a água e para
tentarmos abraçá-lo, inventamos o fracasso da música que é apenas uma
maneira de deixar que sua essência de água nos escape e retorne para um alto e
invisível oceano.
Ilustrações: Anabela Sequeira
Marcelo Ariel: nascido em Santos (1968), vive entre Cubatão e
São Paulo. Autor dos livros: Tratado dos
Anjos Afogados (ed. LetraSelvagem), Retornaremos
das cinzas para sonhar com o silêncio, Com o Daimon no Contrafluxo (ambos
pela ed. Patuá), A névoa dentro da nuvem
(ed. Lumme), entre outros. Em 2012 gravou o disco Scherzo Rajada – Contra o nazismo psíquico.
São Paulo. Autor dos livros: Tratado dos
Anjos Afogados (ed. LetraSelvagem), Retornaremos
das cinzas para sonhar com o silêncio, Com o Daimon no Contrafluxo (ambos
pela ed. Patuá), A névoa dentro da nuvem
(ed. Lumme), entre outros. Em 2012 gravou o disco Scherzo Rajada – Contra o nazismo psíquico.