A poesia de Carlos Pessoa Rosa

Ilustração: Adam Vicinski


MORRER

morrer
é ficar sonho

dedilhar letras
como Freire Albeni – em Tango
palavras no grande salão de espelhos
Marienbad
no lençol de tempo do poeta
ainda ano passado
quando balas perdidas embrulhavam
cadáveres
como se balas de criança fossem
nos entredentes
da perversidade do fingimento poético
(saudade do cine Bijou)


MANHÃ

Passarada
a corruchiar na manhã
poemas
dependurados em nuvens
cachos
de cantorias avelãs


7h da matina
mulheres a expor a vulva
na padaria
repleta de guloseimas
servidas como último prato
o sexo oral
em rostos de maquiagem borrada
corpo
em rebrilhos de falsa prata
ou pretos
que o luto também atrai o gozo
a travesti
e o gringo no pingado
pão na chapa
é manhã no Copan


GALO

nu
o menino espia as galinhas
e os pintinhos
diante de dois policiais que portam
colete à prova de bala
e armamento pesado nas mãos
: assim o mundo nos morros
a inocência espiante
versus realidade perversa das armas
– e o grito do galo
a dizer que a poética do galinheiro
não pertence mais a ele

ESTRELAS

vou inverter
a força gravitacional
e fazer chover
no céu
: as estrelas que se cuidem
vou apagar a noite



Carlos Pessoa Rosa publicou Destinos de Vidro, Contos, Ed. Meiotom, 1992; A cor e a textura de uma folha de papel em branco, prêmio CEPE/UBE, Editora CEPE, 1998; Histórias que o povo conta, mas de meu jeito de contar Nada poético e Sobre o nome dado, Coletivo Dulcinéia Catadora, 2008; Mu Kambo poético e A visão bipolar de um ovo de avestruz, prosa, pela Amazon.com, 2014; Prêmio Literatura para Todos, novela, 2010; Una Casa BienAbierta, infantil, Pequeño editor, Argentina, 2014.

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