Dissecando a solidão
diérese
I
respirar alto é indecente
respeite meu coração
cochilando no isopor gelado.
II
coberto de paredes
todo cimento é pouco
para pintar meu precipício.
III
fiscalizo o luto
da poeira
no criado mudo
IV
coloco os pés
dentro da privada
e puxo a descarga
respirar alto é indecente
respeite meu coração
cochilando no isopor gelado.
II
coberto de paredes
todo cimento é pouco
para pintar meu precipício.
III
fiscalizo o luto
da poeira
no criado mudo
IV
coloco os pés
dentro da privada
e puxo a descarga
V
contando as guimbas
calculo quantas horas
de vida queimei hoje
VI
quebro os ponteiros
da minha coleção
de berros congelados
contando as guimbas
calculo quantas horas
de vida queimei hoje
VI
quebro os ponteiros
da minha coleção
de berros congelados
VII
clandestino em minha
própria pele
articulo meu êxodo
VIII
exilado na carne
ensaio meu retorno
de cabeça no forno
clandestino em minha
própria pele
articulo meu êxodo
VIII
exilado na carne
ensaio meu retorno
de cabeça no forno
IX
me ajoelho
diante de espelhos
implorando conselhos
X
rasgo a fantasia
quebro a face
canibalizo disfarces
me ajoelho
diante de espelhos
implorando conselhos
X
rasgo a fantasia
quebro a face
canibalizo disfarces
homeostasia
I
um de cada vez
os botões vermelhos
murcham atrofia muda
II
embaixo das pedras
dentro dos vasos
repousa a queda.
III
o espelho incisivo
arranca as penas
dos pés de galinha
IV
hoje estou usando uma
gravata de arame farpado
em meu coração dilacerado
V
os ralos das minhas
faculdades mentais
gofam silêncios crus
VI
queima de arquivos na sessão
de expectativas nocivas;
perca total das perspectivas
VII
percorro o protesto
do mistério no muco
das saudades insuturadas
VIII
hasteio a agonia
nos trejeitos
do meu leito
um de cada vez
os botões vermelhos
murcham atrofia muda
II
embaixo das pedras
dentro dos vasos
repousa a queda.
III
o espelho incisivo
arranca as penas
dos pés de galinha
IV
hoje estou usando uma
gravata de arame farpado
em meu coração dilacerado
V
os ralos das minhas
faculdades mentais
gofam silêncios crus
VI
queima de arquivos na sessão
de expectativas nocivas;
perca total das perspectivas
VII
percorro o protesto
do mistério no muco
das saudades insuturadas
VIII
hasteio a agonia
nos trejeitos
do meu leito
IX
corto os cortes
das dores fortes
sorte é a morte
X
cansado de falar sozinho
aprendi Libras pra promover
inclusão social nos solilóquios
corto os cortes
das dores fortes
sorte é a morte
X
cansado de falar sozinho
aprendi Libras pra promover
inclusão social nos solilóquios
síntese
I
viagem intracutânea
introduz acenos de luz
despedida: lá amargo lar.
II
cerca de quinze lágrimas após
descascar o sol
com um bocejo torto
viagem intracutânea
introduz acenos de luz
despedida: lá amargo lar.
II
cerca de quinze lágrimas após
descascar o sol
com um bocejo torto
III
levanto os dias
espano o parafuso
regurgito as chaves
IV
lambendo as chagas
com a língua queimada
azedo medo logo cedo
levanto os dias
espano o parafuso
regurgito as chaves
IV
lambendo as chagas
com a língua queimada
azedo medo logo cedo
V
cosendo as beiradas
do desespero sem
qualquer anestesia
VI
soterrado nos escombros
das metas infectadas pelo
entulho da incapacidade
VII
choco o ovo goro
do estorvo de não
dormir de novo
VIII
abasteço com
o que não esqueço
o motor do recomeço
cosendo as beiradas
do desespero sem
qualquer anestesia
VI
soterrado nos escombros
das metas infectadas pelo
entulho da incapacidade
VII
choco o ovo goro
do estorvo de não
dormir de novo
VIII
abasteço com
o que não esqueço
o motor do recomeço
IX
caço o crasso
desembaraço
da lâmina de aço
X
meu púlpito na sarjeta
sou orador e platéia
suicidados pela Liberdade
caço o crasso
desembaraço
da lâmina de aço
X
meu púlpito na sarjeta
sou orador e platéia
suicidados pela Liberdade
exerese
I
estéril sempre leva
o consolo verde nas
festas de família.
II
pergunto ao deus
google como me
tornar peshemerga.
III
frito a ração diária
da angústia primária
de minha sina ordinária
estéril sempre leva
o consolo verde nas
festas de família.
II
pergunto ao deus
google como me
tornar peshemerga.
III
frito a ração diária
da angústia primária
de minha sina ordinária
IV
nunca engulo
a melodia do
meu coração
V
emboscado pelas cicatrizes
masco o pânico incolor
de esperar a morte atrasada
VI
a mão cansada
de tanta masturbação
ameaça pedir demissão
nunca engulo
a melodia do
meu coração
V
emboscado pelas cicatrizes
masco o pânico incolor
de esperar a morte atrasada
VI
a mão cansada
de tanta masturbação
ameaça pedir demissão
VII
talho outro
retalho de
sorrir falho
VIII
oportunidade
de ocultar minha
volatilidade
talho outro
retalho de
sorrir falho
VIII
oportunidade
de ocultar minha
volatilidade
IX
comemoro
cada vez que
me vejo e não coro
X
agradeço toda vez
que me reconheço
isso não tem preço!
comemoro
cada vez que
me vejo e não coro
X
agradeço toda vez
que me reconheço
isso não tem preço!
misto quente & lava jato
descalço ponteiros
no acostamento
no acostamento
guardanapos
desdobram meu câncer
desdobram meu câncer
descasco fraldas
no pote de cuspir
medúlas
no pote de cuspir
medúlas
ninguém
pediu a conta
muito menos
um pires voador
pediu a conta
muito menos
um pires voador
desmamo
umbíguos na órbita
de vitrines trincadas
umbíguos na órbita
de vitrines trincadas
mastiguem bem
os nervos e o couro
com os dentes dóceis
os nervos e o couro
com os dentes dóceis
desovo arrotos
nos pratos de pano
nos panos do chão
nos pratos de pano
nos panos do chão
o senhor prefere
pagar com o tronco
ou com o porão?
pagar com o tronco
ou com o porão?
descarno papilas
lambendo os calcanhares
de um escudo lascado
lambendo os calcanhares
de um escudo lascado
decapitem meus pés
estou pronto para salgar
o que restar do apêndice
de um orvalho peçonhento
estou pronto para salgar
o que restar do apêndice
de um orvalho peçonhento
destripo meus cascos
álcool em gel
spray de pimenta
álcool em gel
spray de pimenta
salivei garfos cegos
e sobrevivi para
a peleja das colheres
e sobrevivi para
a peleja das colheres
destrincho meus olhos
coração
mal
passado
coração
mal
passado
amar a pedra na mesma medida que o deserto ama a montanha
até minha sombra parir
outro sacrifício
para as moscas
que ocupam
a sala de jantar
até minha sombra parir
outro sacrifício
para as moscas
que ocupam
a sala de jantar
derreto meu fígado
quem não frita
está frito
quem não frita
está frito
até vender minha alma unigênita para espantar as moscas ocupadas da sala de jantar
desosso meu léxico:
em terra de gume
quem tem cego é são!
em terra de gume
quem tem cego é são!
apenas
um beijo
um beijo
um tapa
doce sangrando
a carne fresca
sem temer
a vingança do lilás
um golpe
constituindo
o vermelho
de uma escolha paralítica
até o início trotar
um mandato de busca e apreensão
nosconteiners roucos
de um passo febril
contorcionismo que vegeta
nas estribeiras de um intervalo sulfogênico
mãos que escalam cordilheiras bipolares
em busca de uma bandeira
encravada na incubadora
da maternidade enevoada
de um claustro em chamas
um soco que se contrai
natraquéia e sopra suas asas
na sobrevivência mal-passada
de um epitáfio para colorir
segundos que corroem a ponte
e se apossam da superfìcie
de todas penas que dançam
celebrando a chuva romana
vislumbrei meu pâncreas
perdido entre piratas
apostei todas as minhas fichas
na ligação seguinte
e costurei-me ao leito informe de um NÃO úmido
devorei os braços
que embalavam
meus joelhos hipodérmicos
congratulei os chutes
que acariciavam meus cacos
apertei o ranho
que mimetizava
meus vincos diáfanos
recolhi outdoors
nos trilhos de um parapeito tuberculoso
antes a aura estática
que ruminava meus pelos ingênuos
até os galhos entronarem
o bug que roeu
o estopim do respiro
entrecortado
por
soluços sibilantes
até tu meu verdugo preferido
até tu, oxigênio de meu arfar claustrofóbico
NÃO! eu farejo entre o pó e as nuvens:
todas as lendas fofocam sobre meu almoço
então,
querido,
apenas não se curve,
o resto é uma questão matemática
que separa uma lâmina gentil
deste pescoço revoltado
com o fardo continental
de uma noite enclarecida
então querido,
não tenha pressa
por trinta moedas
até a morte tarda
mas não falha
então, querido,
sugue até a última gota
meu sangue é vosso cálice
até a forca
e
a eternidade
amém.
feat ad infinitum
para Gabriel de Jesus
e se novamente a vida te mostrasse que o caminho é fechar os
olhos como um legista fecha uma gaveta
olhos como um legista fecha uma gaveta
recheada da carne mais barata do IML?
talvez a vontade da espécie
não soasse assim meio torta
tiporemix de um chorinho inelutável
romper o casulo do ego
renascer como garoto feliz construindo castelos orientais na
caixa de areia do grande Leão de Judá
caixa de areia do grande Leão de Judá
nem o deserto que aquece teus passos traça um horizonte
potável
potável
no principio
o paraíso era formoso e vazio
deus bailava na face das dunas
agora a fumaça
santifica tuas caretas
salvo
a salvação
o resto há de ser filado
em mantras fagocitados
no hino do mengão
em cavernas úmidas
tralhas e tragos
goles e golens
ruminando-se
um dia após o outro
boi preguiçoso puxando um carro quebrado
mira chico¡
olhar é um gatilho
aoquidão do banzo alforriado.

Ray Cruz cursa Filosofia na UnB. Em 2017 participou da antologia virtual Gengibre (Org; Felippe Regazio) e fisicamente das antologias Seres da Noite (editora INDE) e da coletânea Hiperconexões, volume 3 (editora Patuá). Filho adotivo da Iluzine posta seus poemas em sua page no facebook: Deus Cadela e em seu blog pessoal: Exu do Absurdo. Amante de amendoim japonês, dias nublados e Paratudo ou café com qualquer coisa. Ray Cruz é um software livre, criado pela resistência atech da InterZone, com o objetivo de criar e disseminar vírus cybercognitivos, através de fonemas e códigos visuais.