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Ilustração: Carlos Schwabe |
gostaria de dizer que ignoro os fatos
– sem que consinta sabê-los –
enquanto passam sobre mim o mal e o mártir
já que na janela do pensamento
se esvaí o brevê do breve e do erro e do algoz
enfim, se me saísse melhor das bravatas e ânsias de superação
vigiaria o cetro do casulo e do altar
ou me redimiria na luta e na busca ou no fim
mas, permaneço, e não esqueço ou minto, embora, ante as imagens
– graves, sempre graves – das necessidades e ausências
perceba os primeiros esgares da fuga falsidade
e tenha pressentido olhares e nódoas
por singulares bem estares
ao longe, o bom, o mistério, o ignóbil, o fim, o precário, o injustiçado
-esse, sempre esse, o acusador, a função realidade –
que sereno infinito no desespero de ser e não poder
verificar as vírgulas e maiúsculas de todos nós
apontar toda tentativa milagre
brevidade do existir
de cada momento jeito sonho eternidade.
Jandira Zanchi (Luas de maçã, inédito)
Uma resposta
Bonito, de uma profundidade que a gente quase se afoga.