Coluna Guido Viaro: 8 poemas

Ilustração: Mikalojus Čiurlionis


O Tempo circunda o homem,
Assim como faz a atmosfera.
Quem escala suas camadas, nos dois casos, possui vista privilegiada,
Os azuis e pessoas mudam de tonalidade.
Os sentidos e significados amanhecem,
Para depois serem soprados como nuvens frágeis.
 

 
Cada homem uma negação do eterno.
Folhas amarelas pendendo de galhos,
Esperando a brisa de outono.
 
Instantes expulsos do sempre,
Viva ilusão talhada em pedra.


 
O dia molha o cacho de flores,
Um pedaço de sol em cada vermelho.
A noite apaga a mancha coletiva de belezas,
E faz nascer o fruto escuro do mistério.
 
*
 
Dentro do homem há peixes, esperanças e fumaça.
O mundo contém sapatos, moedas e liberdades.
Há muitas outras coisas dentro do homem e do mundo.
Todas elas estão dentro e fora de tudo.
Pontos entrelaçados costurando o tapete.
O homem atento percebe as conexões,
 E extrai da azeitona o maior amor do mundo.
 
 *

O barco vazio singra o mar na direção do horizonte.
Não há testemunhas.
As águas rasgadas lamentam a passagem da embarcação,
Mas logo se conformam, voltando a ser o que sempre foram.
 

 
Enquanto o mar encontra o céu,
Confundindo cores e fronteiras,
O homem que a tudo assiste,
Engole azuis e digere significados.
 
*

A menina na varanda contempla a paisagem,
Passeia os olhos por prédios, ruas e esperas,
Escuta as sombras e imagina pensamentos.
Os odores modificam sua percepção,
Que se mistura com a luz do sol,
Nuvem amarela feita de paz e dentes.
 
Na varanda vazia pairam ausências.
 
*

Assim como a pintura a vida também pode ser abstrata.
As formas, os dourados e sombras se misturam.
Os significados se espalham, mas os olhos mais atentos,
Percebem nascimentos escondidos.
O sol plantado na poça de água evapora com o calor solar.



Guido Viaro é um escritor, cineasta, administrador cultural e palestrante nascido em Curitiba em 1968. É autor de 22 romances dentre eles o livro O Cubo Mágico, premiado com o primeiro lugar na categoria romance no Concurso Biblioteca Digital 2020, da Biblioteca Pública do Paraná. É também autor do ensaio filosófico O Labirinto Espelhado e de quatro filmes entre ficção e documentários. Desde 2009 administra o Museu Guido Viaro, entidade cultural que tem por missão divulgar e preservar a obra de seu avô, o pintor italiano Guido Viaro. No museu as atividades artísticas não se atém à pintura, mas englobam música, cinema, literatura e teatro.

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