DOIS POEMAS DE VINÍCIUS MAHIER OU ELUCUBRAÇÕES NA ORLA DA PALAVRA

foto: boris mikhailov, “I am not I”
 
 
êxodo

cravo meu cajado
na palavra cu
e como nádegas se abre
claro-escuro
e não há senão alguns
centímetros de mato rasteiro
para atravessar
rumo à terra prometida
cunaã
paraíso dos não mutilados
bebedores de actívia
exímios oradores
da palavra
mas nenhum dos peregrinos
me acompanha
               então eu paro
(e fico elucubrando
no banheiro) há sempre quem
prefira levar ânus
parado na orla da privada
a ter de separar duas letrinhas
e cagar
sem medo dos soldados
munidos de maçarico
ceifando línguas
lá atrás.




queda


de um lado, a cidade
do outro, minúsculo quarto

no meio do jogo
a janela,
lado nenhum. me arremesso:
(nela: moeda
girando infinita)

persisto. suspenso. vidrado.
esperando que um deus
se não morto fodido
espatife num chão
seu porquinho bojudo.
e ele, caído babando faminto,
tateia e confere uma por
uma as moedas mas deixa
seus rostos de lado.

que lado, meu deus?





Vinícius Mahier, 23, é mestrando em Letras – Literatura e Memória Cultural pela Universidade Federal de São João del-Rei. Fora disso sou doido, com todo direito a sê-lo, no blog ridiculus sum (ridiculussum.blogspot.com) | E-mail: viniciusmahier@hotmail.com.

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