Gosto de Osso: Paulo Pignanelli


 

Para viagem
 
Trago no bolso
um mapa de amores
leve
dobrável
 
Sem segredo
caso alguém perdido
precise encontrar
meu caminho
 
 
Canalha
 
Te olha nos olhos
beija tua boca
ama teu corpo
 
Sufoca tua graça
trai
 
Crava o punhal e
reza
 
 
Monólogo
 
Enquanto o homem
reina estripulias
pelo mundo
 
Abandonado
perverso
deus se ri
 

 

Sonhos
 
Cometi
desvarios cruéis
crimes sem castigo
 
Ri
solto
inalcançável
 
Voei nu
saltei infinitos
realizei todo o mal
interdito
 
 
Des.conforme
 
Ouso contar
o que me mata
assola meu espírito
insano
 
Sofro
por esta injúria
a tempestade dos anos
toda fúria
todo o dano
 
  
Para nossa ciência
 
Nós sabemos
não gozamos
guardamos o fel do almoço
como sobras para o jantar
 
Somos o cão
lambendo as sarnas
um olho cego
outro que não vê
 
Somos
a cura louca
bilhetada
atrás das grades
 
Oferecemos
o beijo morto
às bocas que dizem
amém
 
 

 

Origem
 
Os mortos
cantam em volta da fogueira
sob hordas de estrelas
 
No céu firme
do escuro da noite
a morte é irmã
 
Na ciência
nas canções
na pintura em movimento dos bisões
no verso sobre o impossível
 
Ardilosamente
o fim está adiado
o rumo na terra
incerto
 
 
Denso
 
Era um diabo preso
solto
flutuava sibilando
 
Ao frescor da manhã
entregava-se
a maquinar o tempo
 
Não o via quando
trocava as peles
 
 
Poemas de “Gosto de Osso” (Singularidade) de Paulo Pignanelli.
Ilustrações: Odilon Redon.
 
 

 

 
Paulo Pignanelli é paulistano, tem poemas publicados em blogues e revistas eletrônicas como a revista portuguesa InComunidade, as brasileiras Literatura & Fechadura, Mallamargens, Germina e Editora da Tribo, lançou em setembro de 2017 o livro de poesia Gosto de Osso pela editora Singularidade.

 

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