![]() |
Ilustração: Wassily Kandinsky |
I
Há ruído
por toda parte.
Há esse imenso barulho
tentando impor a sua regra
aos nossos ouvidos:
crescendo ao redor
sobre os meus passos.
Há esse interminável motor
com o seu giro
e a sua pressa —
buscando refúgio,
pedindo entrada
em nossa casa.
II
O céu é ruído.
O vento, a luz,
a nuvem é ruído.
As pedras em frente
produzem sombra e barulho
e o muro é rumor.
O verde das árvores
e a poeira que gira no vento
são apenas barulho
na tarde fria —
que o rumor atravessa
como um punhal.
III
Há esse ruído
cavando sulcos
no interior das nossas veias.
E essa enorme confusão de sons
que entra pelas portas e janelas
e invade os cômodos
e ocupa os nichos
do momento impossível.
Em julho seco
com a sua corcova,
o seu diamante,
com a sua areia
e o seu dente —
há esse barulho,
essa estridência,
esse motor.
Renato Suttana (1966) é professor universitário, escritor e tradutor. Graduado em Letras pela Universidade Federal de São João del-Rei (1989), é também mestre em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (1995), doutor pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2003) e pós-doutor em Literatura pela Universidad de Buenos Aires (2014). Atualmente é professor adjunto da Faculdade de Comunicação, Letras e Artes da Universidade Federal da Grande Dourados, atuando na graduação e na pós-graduação. Foi professor do Departamento de Letras da UNICENTRO (Guarapuava) e do Mestrado em Educação da UFGD. Realiza pesquisas em poesia e ficção brasileiras e teoria literária, com ênfase na poesia e na prosa moderna e contemporânea, na teoria da leitura e da interpretação e no ensino da literatura. Traduziu autores de língua inglesa e espanhola, e tem livros de poesia e ensaios publicados.
Uma resposta
E o grito mudo que nos faz calar é ruído. Lindo poema.