“A poesia é tudo aquilo que ela não quer dizer”
Haicão
Dormindo num cinzeiro
Nadando sem meia
E ardendo feito o diabo
Fazia azia
Com brasa no conhaque
E desfilava
Como um bode na coleira
Nadando sem meia
E ardendo feito o diabo
Fazia azia
Com brasa no conhaque
E desfilava
Como um bode na coleira
Ai de mim pequena!
O céu afrouxou
Feito um nó de forca
Meia-entrada
Meia, meia, meia
Culpa
O céu afrouxou
Feito um nó de forca
Meia-entrada
Meia, meia, meia
Culpa
Algo está totalmente errado em mim, de alguma forma me aproveito disso
O sol brilha falsamente entre as árvores
Seu calor me traz o frio compacto
Com o mesmo gosto, agora grudado no bigode
Doce como um pingo de vela
Mantenho a morte por perto, porque a vida é inalcançável
Não é bem um caso de amor, nem doença
Como posso dizer, talvez um desvio
No máximo um ritmo diferente
Uma anomalia disforme e pragmática
Poeticamente inválido
Risos sanguinários, falta de ar, peidos suspeitos
Meu tempo é um cadáver exposto
Escrevo o último poema todas as noites
As barbaridades fazem carreata no velório
Resignado, martirizado
Quando a última luz beliscar nossas bundas
Então, poderemos finalmente dormir com a companhia de todos
Ao som dos reféns tocando harpas
Designados a rolar em uma corda bamba
Por vidas e vindas
Feridos são os homens que descansam
Seu calor me traz o frio compacto
Com o mesmo gosto, agora grudado no bigode
Doce como um pingo de vela
Mantenho a morte por perto, porque a vida é inalcançável
Não é bem um caso de amor, nem doença
Como posso dizer, talvez um desvio
No máximo um ritmo diferente
Uma anomalia disforme e pragmática
Poeticamente inválido
Risos sanguinários, falta de ar, peidos suspeitos
Meu tempo é um cadáver exposto
Escrevo o último poema todas as noites
As barbaridades fazem carreata no velório
Resignado, martirizado
Quando a última luz beliscar nossas bundas
Então, poderemos finalmente dormir com a companhia de todos
Ao som dos reféns tocando harpas
Designados a rolar em uma corda bamba
Por vidas e vindas
Feridos são os homens que descansam
Poemarcenaria
Quando as veias apertam
O martelo bate o sino
E o sol nasce
Gracioso
Como borboletas no sal grosso
Quando as veias rasgam
O escárnio é doce
Como um favo leproso
E o sol se põe
Entre mercadorias baratas
Sócrates suicidou-se por acreditar na justiça
Jesus pensou tanto crucificado
Que coagulou sangue na boca
Vestígios nos sons do telhado
Morte lenta a criar raízes
Nas marmitas do absurdo
Teatro de uma cena congelada
Piada contada em bocejos
A lua nasce dentro de um chupão
Navega nas cerâmicas do peixe
E ri nos relâmpagos de um vulcão
A pena
Há pena
Apenas
Casacos cheios de furos dos cigarros
Consórcios
Com sócios
Labaredas do suicídio coletivo
O papagaio grita:
“Existe vida na gaiola, existe vida na gaiola, existe vida na gaiola”
Novamente o despertador é programado
E se acorda um minuto antes
Do poema
O martelo bate o sino
E o sol nasce
Gracioso
Como borboletas no sal grosso
Quando as veias rasgam
O escárnio é doce
Como um favo leproso
E o sol se põe
Entre mercadorias baratas
Sócrates suicidou-se por acreditar na justiça
Jesus pensou tanto crucificado
Que coagulou sangue na boca
Vestígios nos sons do telhado
Morte lenta a criar raízes
Nas marmitas do absurdo
Teatro de uma cena congelada
Piada contada em bocejos
A lua nasce dentro de um chupão
Navega nas cerâmicas do peixe
E ri nos relâmpagos de um vulcão
A pena
Há pena
Apenas
Casacos cheios de furos dos cigarros
Consórcios
Com sócios
Labaredas do suicídio coletivo
O papagaio grita:
“Existe vida na gaiola, existe vida na gaiola, existe vida na gaiola”
Novamente o despertador é programado
E se acorda um minuto antes
Do poema
Haicão II
Uivando numa grota
Voando sem pelo
E caindo feito um arranjo
Indo rindo
Com piadas na coleira
Ar de anjo
Enterrando borboletas no útero
Voando sem pelo
E caindo feito um arranjo
Indo rindo
Com piadas na coleira
Ar de anjo
Enterrando borboletas no útero
Ai de mim pequena!
O acordo acordou
A corda, a corda, acorda
Viu meu nó vil?
Viu meu nó,
Viu?!
O acordo acordou
A corda, a corda, acorda
Viu meu nó vil?
Viu meu nó,
Viu?!
Espectrorante
Alimentando as águas
Com iscas de peixe
Afogando os raios
Com isopor em lata
Entregando ao desenhista seu retrato feito a mão
Na plena galeria de pinturas em borracha
Ao vivo, um lampejo histérico insular organizado
De olhos especificamente cardíacos
Na aurora servida em casca sobre a pedra de roseta
Espectrorante
Cativo e batizado
No toque de recolher aos catarros siameses
Rebanho único na ponta do lápis
Aqui jaz sua obra
Acolhemos a loucura assim como ela nos acolhe
Desenhamos a inconfundível voz do vento
Que nos eleva no primeiro sopro
Assim,
Um poeta fantasma
Um poema cuspido
Com iscas de peixe
Afogando os raios
Com isopor em lata
Entregando ao desenhista seu retrato feito a mão
Na plena galeria de pinturas em borracha
Ao vivo, um lampejo histérico insular organizado
De olhos especificamente cardíacos
Na aurora servida em casca sobre a pedra de roseta
Espectrorante
Cativo e batizado
No toque de recolher aos catarros siameses
Rebanho único na ponta do lápis
Aqui jaz sua obra
Acolhemos a loucura assim como ela nos acolhe
Desenhamos a inconfundível voz do vento
Que nos eleva no primeiro sopro
Assim,
Um poeta fantasma
Um poema cuspido
Hábitos
Acordar sobre pedras deslizantes
Trabalhar colares de dados no pescoço
Beber água de cirurgia
Adoçar o café dos cães
Descascar cebolas com tesoura de cabeleireiro
Palitar os dentes com uma foto de feto
Quando a morte chega, a vida não passou de um susto
Hábitos
Confeccionar fogueiras de laranjas
Violar molduras em quadros brancos
Soletrar canções indigentes
Exibir medalhas de chumbo em colares de dados
Esculpir um mudo na Torre de Babel
Quando a morte chega, a vida não passou de um susto
Habito hábitos
Tragar
Estragar
Crivar a noite de insanidade embutida
Poetizar a incoerência de um pardal na poeira
Fiscalizar o estado do gelo
Espantar um espantalho com espelho
Óbito
Quando a morte chega, a vida não passou de um hábito
Trabalhar colares de dados no pescoço
Beber água de cirurgia
Adoçar o café dos cães
Descascar cebolas com tesoura de cabeleireiro
Palitar os dentes com uma foto de feto
Quando a morte chega, a vida não passou de um susto
Hábitos
Confeccionar fogueiras de laranjas
Violar molduras em quadros brancos
Soletrar canções indigentes
Exibir medalhas de chumbo em colares de dados
Esculpir um mudo na Torre de Babel
Quando a morte chega, a vida não passou de um susto
Habito hábitos
Tragar
Estragar
Crivar a noite de insanidade embutida
Poetizar a incoerência de um pardal na poeira
Fiscalizar o estado do gelo
Espantar um espantalho com espelho
Óbito
Quando a morte chega, a vida não passou de um hábito
Homicídio de 1999
Começo, verdadeiramente
A cravar a existência de um Criador
Através das mais simplórias constatações
Acredito quase 100%
Numa totalidade transparente e segura
Que de outra forma
Não haveria possibilidade de termos
Um inferno assim,
Tão perfeito
Com uma ressalva indispensável
Para tal afirmação:
Criou de luvas
A cravar a existência de um Criador
Através das mais simplórias constatações
Acredito quase 100%
Numa totalidade transparente e segura
Que de outra forma
Não haveria possibilidade de termos
Um inferno assim,
Tão perfeito
Com uma ressalva indispensável
Para tal afirmação:
Criou de luvas
Para F.F
Marchando sobre ferraduras
Ou apenas alegando insanidade poética
O crime demorou sete anos para ser finalizado
Notícia um tanto confusa
Que chegou de helicóptero
E pousou no cemitério dos campos vastos
Onde adultos brincavam de acordar fetos feitos de açúcar
Pneu estourado pelo tiro da espingarda de plástico
Metros abaixo de onde o fusca vermelho fora abandonado
Um senhor grisalho e de terno mostrou seu crachá, que dizia:
“Vim do futuro e não existo”
Haicão III
Gorjeando submerso na lava
Emergindo numa cápsula transcendental
E pairando em ponto morto
Passando assando
Com brasas no distintivo
Maquiabéblico
Entranhas para metamorfoses em tranhas
Emergindo numa cápsula transcendental
E pairando em ponto morto
Passando assando
Com brasas no distintivo
Maquiabéblico
Entranhas para metamorfoses em tranhas
Ai de mim pequena!
A ribalta pegou fogo
E não posso correr
Sem antes
Queimar
Meu figurino
A ribalta pegou fogo
E não posso correr
Sem antes
Queimar
Meu figurino
Ramon Carlos é coautor do livro estrAbismo (Editora Viseu, 2018). Escreve no site: www.estrAbismo.net. Tem materiais diversos espalhados em revistas como: Mallarmargens, Amaité Poesias & Cia, InComunidade, LiteraLivre, Subversa, Philos, Escambau, Bacanal, Ruído Manifesto, Literatura & Fechadura, Jornal Plástico Bolha, A Bacana e Cidadão Cultura.
Uma resposta
"um inferno assim,tão perfeito…" 😉