IMPROVISO PARA BRUTALIDADES – FLAVIO CAAMAÑA

 
 
 
 
 
Foto: Auda Costa
 
 
 
quer saber como é a
delicadeza eu te conto
a delicadeza é um bicho
feroz pata sobre pata
baba sobre baba mandíbula
sobre casco
a delicadeza não se
alimenta não se reinventa não se desculpa
dia e noite atropela o
que já foi atropelado
esfacela o que já se
supôs esfacelado
a delicadeza sozinha
dança e dança
 
da delicadeza guardo um
esparadrapo fedido
roupas de seda e ressacas
da arábia
bocas de assassinos da
maldita arte
de coletar coisas que não
saberemos contar
da delicadeza ofertaremos
o que é acidental
nem generosa nem ingrata
o nosso pão seco
ofertaremos o que de
fardo aceitarem
 
sobreviverá da delicadeza
a paulada no ar
o jeito previsível de
levantar as calças
fuçar no fundo dum fogo
um fogo queimado
ofertaremos o fogo até
germinar um fiapo de carne
 
da delicadeza a carne não
adivinhará o gozo
não seduzirá não se
deixará seduzir não derrubará altares
não fechará um verso de
poema a coronhada
não elucidará enigmas não
envenenará oceanos
o que sei da delicadeza a
pólvora sabe a bala sabe
da delicadeza sei o merecimento
e nada mais
 
 
Flavio Caamaña é um trabalhador braçal nascido em Tamboril, desertão do Ceará. Vivenciou o auge da ditadura, a infâmia e a injustiça. No início dos anos noventa participou como voluntário em campanhas de apoio às vítimas da Aids. Primeiro lugar no XVI Prêmio Ideal Clube De Literatura, participou de coletâneas em livros e revistas literárias virtuais. É autor do livro de poemas Aquedutos (PATUÁ, 2016).
 
 
 
 
 
 
 

 

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