Kondomínios – Catia Cernov

Ilustração:  Lee Krasner

Kondomínios
(O
Avesso do Kaos)
É
o medo qe nos prende aqi dentro
feito
bichos ameaçados
reis&javalis
cercados
A
possibilidade da perda nos apavora
A
existência do desconforto nos aterroriza
Aqi
nos escondemos da miséria
construimos
jardins ao nosso redor
pra
não lembrarmos qe a dor&fome existe
Não
comemos nada dqe são plantados nesses canteiros
&
bosques privativos
apenas
o contemplamos
pro
nosso conforto
pra
ver qe as coisas estão á nossa disposição
a
delicadeza das maçãs
Temosgostos
nobres
exportamos
o qe comemos
e
sempre poderemos pagar pra qe alguém de fora
venha
cortar as ervas daninhas qe ameaçarem nossos jardins.
Mas
depois das flores estão as grades
E
depois das grades tudo é prejudicial
Violento
feio desordenado incapaz  doentio
Somos
cada vez mais dependentes destas muralhas
Ocupamos
grande parte dnossos dias trabalhando lá fora
pra
nos manter aqui dentro.
Nossa
inteligencia é pra fabricar dispositivos de segurança
sistemas
de vigilâncias satélite de rastreamento
pra
treinar os guardiões dos portões.
Damos
duro para projetar os comportamentos desejáveis
e
gerarmos mais emprego:
pois
temos de evitar os desocupados
qe
queiram pisar em nossos jardins
Nossas
flores nos são muito caras.
Estamos
ficando cada vez mais pálidos
corpos
frágeis
doença
do pânico depressão& solidão.
E
concordamos com o preço:
podemos
encomendar os remédios
e
muitos de nossos filhos estão estudando a cura.
Aqui
dentro nascemos aprendendo o desprezo ao outro
E
com o tempo desenvolvemos o desprezo sobre nós mesmos
Não
conversamos nada mais além
Do
qe a funcionalidade dos sistemas
Não
se deve falar das flores
Esses
jardins são institucionais
As
abelhas e borboletas
Devem
ser podadas.
É
o medo nos une
É
o medo qe nos faz amar
construir
esses muros azuis
Não
ousamos enfrentar esse medo
porq
pode haver um medo muito maior lá fora.
Sempre
há alguém
algum
ressentimento
qe
prove invadir nossos dispendiosos jardins.
Aqui
a
guerra não nos comove
não
nos diz respeito:
Rascunhamos
máquinas projetamos projéteis
fazemos
as leis construímos os presídios
fechamos
os negócios e determinamos as fronteiras
Mas
a guerra não nos diz respeito
não
está em nossos quintais
são
só temas da tv a cabo& delírios de videogame.
Mantemos
o exercito porq é preciso defender nossa muralha
nosso
direito á privacidade
ao
bem estar
ao
futuro de nossos filhos
e
uma previdência decente.
A
segurança é a certeza de nosso destino
Depois
disso nada existe
 nada mais deve ser visto
Ganhamos
ás alturas
podemos
ver o céu mais de perto
e
ninguém pode nos pegar aqi em cima
Nossa
gente é unida
Forte
patriota poliglota tem cultura tem capital
e
ninguém será mais forte
pra
conquistar nossas piscinas.
Fizemos
um Deus que controlasse nossos instintos
qe
não nos deixasse ter qe comer de colher
que
apoiasse os nossos desejos
e
nos salvasse da miséria e do fim.
E
quando o medo mais nos ameaça
quando
tememos a ferocidade que desgoverna
o
mundo além dessas muralhas
nós
rogamos por Ele
Pedimos
perdão por um crime que nunca enfrentamos.
Depois
seguimos cabisbaixos
pra
nossos paraísos exclusivos
apreciamos
nossas caras flores
sorrimos
para nossas câmeras
tomamos
um comprimido para dormir e parar de pensar
 “será que Deus esqueceu aquela gente lá
fora?!”
Vamos
ficando cada dia mais tristes

não temos paixões
Nossos
filhos vão ficando cada dia mais apáticos
Tudo
que poderia ser vivido experimentado
 já nos foi oferecido pelos canais de compras
As
mercadorias são nossos demônios!
Não
somos uma gente em paz
&tranqüila
como parecemos
Temos
um imenso problema pra resolver todos os dias:
como
gastar nossos dinheiros.
E
qalqer tormento da alma
qalqer
possibilidade de vazio
qe
venha nos incomodar as ideias
nós
podemos encomendar os livros
qe
nos indiquem os caminhos de cura.
Depois
reerguemos nossas cabeças
subimos
em nossos terraços
olhamos
nossa cidade
&
sorrimos pras flores qe estão deste lado da muralha
Somos
os senhores das palavras
e
tudo que for dito contra nós
 jamais será publicado.
que
deus nos proteja e nos mantenha aqui dentro!





Catia Cernov, escritora nômade, filósofa orgânica e produtora independente, vaga entre as cidades com suas poesias e também ficção científica.  Autodidata, 50 anos, mora em Florianopolis SC. Escreve, edita e imprime seus livros, pelo seu selo Cernov Produção Independente. Já publicou na Revista Caros Amigos, Revista Alagunas, Mallamargens, antologia do Sesc,  tem premio internacional em Cabrália, Italia. Escreve nas estradas, viaja com seus livros entre Amazonia, Cerrado, Mata Atlantica e Pampas. 

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