conheça um poema do livro:
Deitado no terreiro a namorar estrelas,
sonho com os longes das luzes que chegam até aqui.
Apoiado na memória, um vazio calado
me leva por ilhas de luz
e sinto o elo que me liga aos ancestrais.
Caminho junto às estrelas
em busca das metáforas estrangeiras.
Daqui, deste pávido ponto,
grão de poeira a girar na imensidão,
sinto a treva morrer a cada pirilampo
que grita seu brilho, pingo de luz pulsando.
Incansável cavaleiro a vagar por labirintos,
fecho os olhos e distâncias me engolem.
Há trevas e mais trevas.
Assustado, planto um girassol no meu imo
que acende um candeeiro de astros,
um diagrama de pulsares, o prisma do Pink Floyd.
Fecho os olhos e eles ficam bem abertos.
A noite tem uma intimidade
que perpassa e trespassa os abismos.
A noite é uma vaca preta
que oferta o leite da vida aos sentidos.
Sou o cordeiro que veio fundar
uma constelação de signos.
Aboio bárbaro que ecoa no Vale de Josafá,
o arco da minha lira arremessa o girassol
e ele segue pelo Universo, sem medo,
flecha que atravessa o desconhecido.
Danço sobre a chama
e em meus olhos sorri o Infinito.
José Inácio Vieira de Melo