Noite – Leopoldo Comitti

 
Ilustração: Gustave Moreau
 1.

Eis o verbo que se adjetivou
entre nós. Não há cálice amargo
nos passos das ruas barrentas
do vinho barato do sangue
regado em suor e calafrios.
Paramentados oficiamos
a missa da vida torpe
nas calçadas repisadas,
respingadas de nossa
própria lama, de nosso
pó barato e sempre inerte.
Sem incenso, sem sorte
rendemo-nos à onipotência
da carne e dos rituais mundanos.


2.

Um Cristo de barro tolo
desce a ladeira em procissão.
E vamos em paz:
que os loucos e imbecis
nos acompanhem.


Leopoldo Comitti  (A Mordida do Cordeiro, Patuá)

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