Patrícia Claudine Hoffmann: poemas disléxicos de quando estivemos aqui e não sabíamos

Ilustração: William Degouve de Nuncques.


Desmemórias não nos atingem os sentidos,
porque a poesia capta seus adeptos
mesmo fora
do radar:
 
cuida de seus vestígios.
 
*
 
Não há mais esconderijos
vibracionais
para os portais de si mesmo.
 
Lugarejos de ensino
desenham livros mentais
interinos de nossa longa espécie
e outros manuais de destinos.
 
Há espelhos por dentro
e por fora do tempo.
 
Todos atentos de enigmas.
 
*
 
Retrospecto de paradigmas
desfeitos na bagagem
também desfeita,
por critérios das
supernovas.
 
Há rimas siderais
e samurais de silêncio
no jardim infenso às muralhas
que não nos servem mais.
 
Nunca houve ninguém
do outro lado
além de nós.
 
 
Ortografia onírica
 
Nosso caderno cósmico
de caligrafia,
por dentro
dos calendários,
 
calibrava de interferência
as frases do mundo,
mas às vezes não.
 
Vivíamos por extenso…
no redigir da viagem
que é sempre
de volta.
 
*
 
Não sabíamos das ruínas
nas rotas do desamparo,
porque alguns poemas não falam
em público,
por ocasião da liberdade secreta,
dormem um pouco
na falha.
 
Têm dicção de desertos,
sob pressão das esferas.
 
Alfabeto confuso ainda
de outras guerras.
 


Patrícia Claudine Hoffmann,  nasceu em São Paulo/SP (1975). Radicada em Santa Catarina, é poeta,  formada em Letras, autora dos livros de poesia Água Confessa (2000, Letradágua), Sete Silêncios (2004, Fund. Cult. de Itajaí), Matadouro Imperfeito (2016. Letradágua), Feito Vértebras de Colibris (2017, Bolsa Nacional do Livro/Marianas Edições), O Livro de Isólithus (2018, e-book, E-galáxia/Coleção Prato de Cerejas),  Oratórios d’Água (2021, Patuá) e A Sombra Azul do Minotauro (2023, Patuá). Tem  poemas publicados em antologias e revistas digitais. Mantém o site  patriciaclaudinehoffmann.com

Uma resposta

  1. Poemas sofisticados, elegantes do ponto de vista estético – temático. A poeta dentro e fora do poema consegue se envolver com esta que se torna uma nova e independente entidade: sua poesia. Como se estivesse se aprontando diante do espelho, a fim de adentrar na escrita poética. Quem é a poesia e quem é a poeta? A automação espaço – temporal funde, refrata e nos faz ler com sutileza, honestidade.. Honestamente nos traímos e às vezes fidedignos. Sem perder o controle do texto, Claudine Hofmann desaparece pelos becos da própria poesia e nos deixa e eis que sua poesia se avoluma de ausências que deixam o cheiro de perfume literário.

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