Um pássaro grafita a noite
E ergue em seus ombros úmidos
De penas e de serenos vencidos
Um assovio que acende
Um afiado colar de estrelas.
Um pássaro mareado
Ouve o passo lento da lua
E o farfalhar delicado
Que emerge de águas e sonhos
E inunda de oco a vazante.
Num seco verso de foice
Prende a faísca do seu canto
Bica as garras e os fulcros
E espanta um cardume
De ralados vaga-lumes.
No defluir do sangue
Que arregala a asa e o pomo
Decantam-se as horas
Degustadas entre espigas
E olhos mastigados de vigília.
Em chaminés pintadas à mão
Alça a sua lira noturna
Pombais arranhando os céus
Fiações elétricas cruzadas
Sobre o pouso da garganta.
Avoado de cintilância e fome
Rasga a salivosa maçã
Espera de rondas e escombro
Do alto de sua montanha
Prevê o sol rastejante.
E como se rapina fosse
Na beira da luz diluída
Grita o nome de um anjo
Arrasta com o velcro do olho
Os guizos da noite e canta.