POEMA DE FLAVIO CAAMAÑA: DO CICLO BOCAVESSA

 
 
 
ILUSIONÁRIO



Um pássaro grafita a noite
E ergue em seus ombros úmidos
De penas e de serenos vencidos
Um assovio que acende
Um afiado colar de estrelas.

Um pássaro mareado
Ouve o passo lento da lua
E o farfalhar delicado
Que emerge de águas e sonhos
E inunda de oco a vazante.

Num seco verso de foice
Prende a faísca do seu canto
Bica as garras e os fulcros
E espanta um cardume
De ralados vaga-lumes.

No defluir do sangue
Que arregala a asa e o pomo
Decantam-se as horas
Degustadas entre espigas
E olhos mastigados de vigília.

Em chaminés pintadas à mão
Alça a sua lira noturna
Pombais arranhando os céus
Fiações elétricas cruzadas
Sobre o pouso da garganta.

Avoado de cintilância e fome
Rasga a salivosa maçã
Espera de rondas e escombro
Do alto de sua montanha
Prevê o sol rastejante.

E como se rapina fosse
Na beira da luz diluída
Grita o nome de um anjo
Arrasta com o velcro do olho
Os guizos da noite e canta.

 
FLAVIO CAAMAÑA é um trabalhador braçal e poeta nascido emTamboril, desertão do Ceará. Atualmente residindo em Fortaleza, obteve primeiro lugar no XVI Prêmio Estadual Ideal Clube De Literatura, participou da coletânea GOLPE e revistas eletrônicas. É autor de AQUEDUTOS (PATUÁ, 2016 
 
 
 
 
 
 

 

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