
No bar, leio o jornal
disputado pelos presentes.
As notícias são piores
do que esperam os clientes.
***
O saldo da minha conta
não interessa a ninguém.
Devo bebê-lo inteirinho,
depois fico muito bem
***
No bar mais tranquilo
todo mundo está louco.
Eu bebo mais uma
e me transformo um pouco.
***
Sozinho nesse boteco
faço mais um poeteco,
tomando meu vinho seco
no copo, não no caneco.
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Não esqueça de pagar
depois de beber.
A conta do bar
não se consegue prever.
***
Poemas de boteco
não valem a cerveja
que eu tomo esperando
antes que ela chegue.
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Nos bares das esquinas
alcoólatras freqüentam
o balcão mais fundo.
Parecem não ter lares,
mulheres sonolentas
ou amigos mudos
***
Grotesco esse povo no bar,
no balcão os velhos barrigudos,
falando mal do time adversário,
fazem gestos que eles não fariam
no lar, com a mulher e os filhos
REINOLDO ATEM(1950-2024): declaradamente curitibano, nasceu em 1950, no Piauí, morou em Londrina e em São Paulo. A sua poesia guarda as imagens de uma Curitiba sem os delírios de modernidade. Como consequência, seus melhores poemas não pagam o tributo para o verso curto ou para a modernidade epidérmica. Muito pelo contrário, os seus bons poemas são longos, bem articulados e revelam o domínio da macroestrutura da linguagem.
Publicou a novela “1971, no Auge da Repressão”, Editora Beija-Flor, Curitiba, 1978. (Reeditada em 2014). Foi um dos fundadores e editores da revista Outras Palavras (1978) e da revista de criação Zé Blue (1980). Participou das coletâneas: 4 Poetas – Editora Cooperativa de Escritores, Curitiba, 1976; Tempos (poemas) Editora Pindaíba, São Paulo, 1976; O Conto da Propaganda, Editora Vertente, São Paulo, 1979; Assim Escrevem os Paranaenses, Editora Alfa-Ômega, São Paulo, 1977, Sala 17 – poemas, Movimento Sala 17, Curitiba, 1978.