7 POEMAS DO QUARTO TRATADO

ART. 1, § 1.º (p. 109)
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agílima ogiva
alija
a geografia
saxífica
consumindo
com radioativo
lirismo
a superfície
impassível
do conformismo
ART. 2, § 4.º (p. 122)
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florígero indígete
protagoniza
uma briga digna
da Ilíada
ao cair
do racimo
e delir
com perícia de cisas
e espiras
a estirpe petrícola
ART. 3, § 5.º (p. 133)
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efusivo glifo
desliza
pelo infeliz
homizio
e no frenesi
do seu zigue-
zague decapita
o ninho de víboras
que petrifica
favilas lídimas
ART. 4, § 4.º (p. 142)
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velida diva
cliva
a inativa
trilha: ínvia
topografia
de atritos
parindo picos
e píncaros
cirros
e clímax
ART. 5, § 6.º (p. 154)
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sustenido cisco
de mirra
cinde
o covil
da aforia
extinguindo
a enxovia
da asfixia
que suprime
a maravilha
ART. 6, § 1.º (p. 159)
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celíflua sophia
fustiga
a tolice
e convida
o cativo
a subir
pela escadaria
querubínica
rumo ao vis-à-vis
que sacia: tríplice
ART. 7, § 4.º (p. 172)
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divino vidrilho
cativa
a vista: advindo
sobre a entropia
aviva
prismas: reprime
espíritos
de pedrarias
que humilha
e arruína: exorciza

adriano wintter (1971), poeta e tradutor, nasceu e reside em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. É autor de A Busca da Luz (1991–1992), Luz Léxica (1993–1995), Apotheosis (1996), Polimusa (2010), Mero Verbo (2010), Porto Alegre Desolada (2011), Clara Mimese (2012), O Ciclo do Amor Recomeça (2013), Ágrafo (2014), O Plectro & as Horas (2015), Quórum da Luz (2016), Sob o Baque do Belo (2017–2021) e Totelimúndi (2022), inéditos reunidos na Suma Lúcida (2023). Publicou em antologias e coletâneas de premiações. Foi traduzido ao inglês, francês, espanhol e catalão, colaborando em revistas da Espanha (sèrieAlfa), Portugal (Triplov, Caliban, Devir, Linguará), México (Separata), Argentina (Experimenta), Chile (Cinosargo) e Colômbia (Otro Páramo); além das publicações nacionais: Revista da Academia Brasileira de Letras, Sibila, Acrobata, Suplemento Literário de Minas Gerais, Qorpus (UFSC), Eutomia (UFPE), Musa Rara, Relevo, Sepé, Ruído Manifesto, 7Faces, Poesia Viva, Correio das Artes e Babel. Traduziu, entre outros: Alfredo Fressia (Uruguai), Fernando Bensusan (Espanha), José Kozer (Cuba) e Victor Sosa (Uruguai). https://editoralumina.com.br/produto/sobre-a-queda-de-uma-petala/
Uma resposta
Adriano Wintter.com sua alta voltagem técnica lembra uma declaração de João Cabral de Melo Neto. Para Cabral, a técnica suplantaria procedimentos estéticos de inspiração. Embora seja evidente a riqueza técnica, tal afirmação não passa de puro charme e falácia deste autor inspirado, inspirador e nunca meramente cerebral. Na mesma via, em ‘Sobre a queda de uma pétala’, Wintter forja a inventividade só possível com a transcendência, com a transpiração e a inspiração. Afinal, os versos que seguem exigem releituras atentas tanto pelos sonoros procedimentos imagéticos quanto pela exigente escolha do léxico e das estruturas. Poemas marcados por um lirismo quase racional, por uma ousada filosofia a aproximar noções no meio das indefinições correntes da vida. Isto é, poemas que nos desafiam.