Ozirisguidum,
Todos ao boteco,
– Dubito, ergo cogito, ergo sum… puisque je doute, je pense;
puisque je pense, j’existe. A duras penas, cogito: se a palavra
não é de mármore, menos é de granito. Como erigir uma igreja,
não sobre uma pedra, mas sobre toda uma pedreira,
senão à custa de mútuas heresias?
Tratados e estratagemas de zukodovo e poemas: varíolas de cores,
pústulas, odores. Alguém tem que carregar a cruz do Pilarzinho.
e marias de sobrenomes estrangeiros, numa esquina sequer dessa
romópolis oca de feras e casa de flores, uma macumba, nem mesmo
Ars longa, puta pelvis. Vai por mim, disse Artischelvis, a arte está
sempre certa! Por tal, teimosos são os mestres. Um deles somos nós,
um deles somos nós: agora é que são elas. Quando chegar nossa hora,
pululo de trás pra radiante. Pois que, a título de igualdade, Emiliano,
Fulano e Beltrano não ousarão contra-irar Sicrano, Narciso ao contrário,
Longe de mim o mero labirinto de deleitáveis palavras: iria da parca
– Desafiotlux douto Vampiririlâmpago: vostra vodka paródica, conviversa
em prosa porosa, conta contagiosas fábulas rasas. Se não estou correto,
que me corrijam os corretores de plantão. A palavra não é imóvel. Ergo…
Não vou agora ser profético, sei mais de mim que de outros, mas tem
muitos outros em mim que eu não sou. O que sei, ou sou,isso sim, é que
ao despertar de sonhos intranquilos, na difusa hora em que a noite se faz dia,
Que tal, pensou, se descesse o rio de bóia e depois, com fogo grego
Fosse fase e era quase, Propp a mente medita. Uma vida sem fertilizar
a língua é vida, pergunta Ferlinghetti? Morre Malone, Lennon também,
nem porra nenhuma. A não ser a mim mesmo. Quem vocês pensam
que estão? Meu poema eu sofro sozinho. Sou um minotauro perdido
Somewhere Beckett over the rainbow. Or Rimbaud?
Em versão pocket, Saul toca trompete. Dum spiro spero.
Viver é um ofício severo. Releio Leminski.
Sobre o branco do papel do risque & rabisque,
Stravinski em compasso de espera, dança Nijinski.
como antigamente, ouvi dizer
De fato, ser uma voz
que proclame todas as outras
E são tantas…
seduziria alguém de mais idade
faria uma temporada no inferno
(a walk on the wild side)
desses que arrostam putas, travestis
michês, polícias e lambisgoias
todos levando às costas
sua própria cruz machado
o resto de meus dias entre noias
a traficar nos fundos da Catedral
Cá onde a absorta e cega democracia
ébria dança qual ensandecida cigana
Cá perdido, e aqui presente, neste labirinto
sem que saiba hoje quem sou ou fui outrora
morituro minotauro pura fúria mero instinto
Conto ainda que reveja as cinzas da aurora
e, num suspiro, reavive o verbo quase extinto
brasa sã que refresca os ardores da memória
Dalton Trevisan – Cartinha a um velho prosador
cidade esquiva
teus adultérios
teus rinchos abafados
e a enorme idade
de tua prostituição
Sei de tuas recriminações
teus cemitérios,
teus riachos insepultos
tua soberba e a dureza
de teu coração
Ai de ti, Curitiba
cidade furtiva
envergonhada
de ossatura medíocre
Sem compaixão, agrides
o que não te agrada
Porventura deve o etíope
mudar sua pele
ou o leopardo
suas manchas
para que aceites
a ti mesma?
os ritos, o assombro
aqui amalgamaram-se
raças, fábulas, lendas
indecifráveis farsas e crenças
Ai de ti, Curitiba
cidade enrijecida
Teu vampiro assusta menos
que teus jovens iletrados
hábeis no manejo
deletérias sombras
a se mover siderados
por tuas vias rápidas
e vielas não menos obscuras
cidade envaidecida
tua torre não é de marfim
mas de papel
Imprime nele pois,
teus segredos
revela teu rosto
ornado de soberba
e lambrequins
e aparecerá
tua ignomínia
quando te purificarás?
Qual será tua sorte
a porção que te
dará medida?
unânime e burra
Digere, pois
teu rosado pedigree
que nem tuas calçadas
de pave petit
suportam mais
essa esplêndida
e carmesim virulência
Ó cidade aberta
o vento que nos alerta
e reconstrói vidas
Haiti, Curitiba
Haiti, Curitiba
lugar de gente pálida e rude
cuja mudez a alma desvanece:
o vinho da memória te enaltece
Falta faz aqui o divino Dioniso
destinado a desterro sem retorno
Pudera eu sair por aí de improviso
na lã de tuas tardes de outono
tanger a lava azul de tuas montanhas
provar do verde úmido de tuas entranhas
fazer do fresco orvalho teu fiel espelho
Mas como bem diz o pássaro vento
a chuva é o alfabeto das árvores
e nada inscrito sobre o mármore
é menos passageiro do que o tempo
Vã é a força do homem, que o diga
aquele que, mesmo em idade avançada
mantém-se firme, fadiga após fadiga
e ao fim de tudo, descobre que é nada