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Ilustração: Bertel Thorvaldsen |
Glicemia
Em algum lugar
uma memória desfolhada
um nexo íntimo
uma historia
sem começo
um processo de
recolhimento
uma vibração
perante o ar
um des(velar)
o pensamento
ou conversar com as horas
lamentar
tatuar e tentar
novamente
o ritmo
doce do desejo.
uma memória desfolhada
um nexo íntimo
uma historia
sem começo
um processo de
recolhimento
uma vibração
perante o ar
um des(velar)
o pensamento
ou conversar com as horas
lamentar
tatuar e tentar
novamente
o ritmo
doce do desejo.
.
Crença
Busquei a intensidade
das horas
o caos das religiões
o deserto das relações
a última esquina da noite.
das horas
o caos das religiões
o deserto das relações
a última esquina da noite.
Eu esperei
dos dias epifanias
dos amores evolução
das paixões
afluentes.
dos dias epifanias
dos amores evolução
das paixões
afluentes.
Eu costurei
memórias e falhas
desvios e tangentes
discursos vazios
encontros incoerentes.
memórias e falhas
desvios e tangentes
discursos vazios
encontros incoerentes.
Eu me curei
da náusea da rotina
de mentiras de baixo do tapete
cicatrizei meus agostos
descasquei meu calvário.
da náusea da rotina
de mentiras de baixo do tapete
cicatrizei meus agostos
descasquei meu calvário.
Vou voltar
para os dias de pique-esconde
para de trás da barra da saia
para aquilo tudo que eu tinha certeza
mesmo sem as provas do crime.
para os dias de pique-esconde
para de trás da barra da saia
para aquilo tudo que eu tinha certeza
mesmo sem as provas do crime.
Eu rezei
por tudo que um dia será
por aquilo que não foi
mas flui como um submarino
nas profundezas da fé.
por tudo que um dia será
por aquilo que não foi
mas flui como um submarino
nas profundezas da fé.
.
Pela fechadura
Olhei de viés
o entortar
das formas
e o jazz
nas estações
pelas quais o espanto
desfila o duelo
da solidão
notas
entoadas como
touradas
de cólera sagrada
catei com intuição
de trapezista
o despencar
de um beijo
um movimento
de refletor
em prata madrugada
assim
vou subindo
pelos túneis
vastos do desejo.
o entortar
das formas
e o jazz
nas estações
pelas quais o espanto
desfila o duelo
da solidão
notas
entoadas como
touradas
de cólera sagrada
catei com intuição
de trapezista
o despencar
de um beijo
um movimento
de refletor
em prata madrugada
assim
vou subindo
pelos túneis
vastos do desejo.
Davi Kinski escreve poesia desde os 15 anos. Formou-se como ator pela Actor School Brazil e em cinema pela Academia Internacional de Cinema. Já dirigiu sete curta-metragens, dentre eles Cineminha, de quem também é responsável pelo roteiro, protagonizado pelas atrizes Etty Fraser eCaty Stwart. É autor do livro de poesia, Corpo Partido (Editora Patuá -2014), que já foi traduzido para o francês. Recebeu indicação para Melhor Ator, no Festival de Gramado em 2008, em sua atuação no filme Nome Próprio, de Murilo Salles e no teatro, encenou Aurora da Minha Vida, Lisístrata, Bailei Na Curva e O Grande Jardim das Delícias de Fernando Arrabal. Em 2011 estreou em seu primeiro monólogo “Lixo e Purpurina”, baseado em textos de Caio Fernando Abreu, cumprindo uma temporada de sucesso no SESC Pompeia. Seu último livro, Pasolini do Neorrealismo ao CinemaPoesia foi lançado na última Bienal Internacional do Livro em São Paulo bem como no Museu da Imagem e do Som. Foi finalista em 2017 do prêmio Jabuti na categoria“Arte, Arquitetura, Urbanismo e Fotografia”.