3 poemas de Wagner Andriote

Ilustração: Gilad Benari
 
Sombras do efêmero
 
“Não há caminho para a liberdade; não há liberdade”.
 

Livre é o vento.
Humanos, nascemos escravos:
do pensamento,
símbolos e signos,
da solidão dos abismos,
das sombras do efêmero.

A prisão das máscaras
não vale a vilania das covas.
Entre as trevas da linguagem
e a iluminura dos versos,
apenas a ferocidade da carne
e a brevidade das horas.

Cá estamos,
ébrios até os ossos,
remoinhos, cegos e loucos,
remando de encontro
aos rochedos do mundo…

Náufrago insubmisso
 

Parir um verso no abismo
com sílabas secretas,
tangidas pela demência do mundo.
Eis o delírio do poeta.

A palavra migra no enigma
das aves, rumo ao fogo,
ao precipício.

No caos do abandono,
o uivo dos fonemas
assombra o ocaso.

E o poema, náufrago insubmisso
à tirania das águas,
rasga os mares cegos da escrita.

Humana indigência
 

(A Schopenhauer)

No pensamento, vulcões em fúria.
No sangue, ácido e lamúria.
Sua espada, um substantivo,
a poesia e o verso subversivo.
Os olhos ávidos, a alma ferida,
o desencanto, a filosofia vã,
o assombro, o enigma da vida,
ocaso que prescinde do amanhã.
Peregrino sem rumo nem brilho,
aprisionado na rotina das horas,
bípedes fúteis em busca de exílio.
A galope em selvagem carência,
Rumina angustias pelo mundo:
Escravos da humana indigência.

 

 
Wagner Andriote reside na cidade de São Paulo. Publicou Desordens do Ocaso, Editora Scortecci, 2014, participou de diversas coletâneas nacionais, entre elas Concurso Nacional Novos Poetas, Prêmio CNNP” – 2014, Antologia de Prosadores e Poetas Brasileiros Contemporâneos, Porto de Lenha Editora – 2015, Coletânea dos 40 anos do Movimento Poético Nacional – 2016. Em 2018 participou do livro digital Brinquedos do infinito – Poemas a dezesseis mãos, obra que promove a circulação livre e gratuita de poemas coletivos.

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