
Imagem:Erik Johansson |
Espera
salpica salpica
el yo el superyó
instalados en la dentadura amarillenta
que parafrasea que mastica otros tiempos
la difunta esposa los besos debajo de la piel
los brotes de silencio de preguntarse por qué
detrás de los ojos se pasean las coronas
arrojadas cada año sobre la frente de los ahogados
el tránsito de los hijos sobre el oficio
envejecedora labor humedad que encapsula los huesos
doloridos engranajes entre la carne
salpican salpican
los dueños de la mar las anclas mudas
incrustadas en el fondo en los eslabones libres
libertinas pupilas apresando la línea cielomar
boca tajeada reseca de contar historias
de pedir auxilio como si Dios
fuera una gaviota risueña clamando paciencia
escarbando en la soledad
capa por capa de un corazón derrotado
retrasando el día en que el último grito
se una a los ausentes
*
Espera
respinga respinga
o ego o superego
instalados na dentadura
que parafraseia que mastiga outros tempos
a defunta esposa os beijos debaixo da pele
os surtos de silêncio de se perguntar por que
por trás dos olhos passeiam as coroas
atiradas todo ano sobre a fronte dos afogados
o trânsito dos filhos pela copa
envelhecedor ofício umidade que encapsula os ossos
doloridas engrenagens por entre a carne
respingamrespingam
os donos do mar as âncoras mudas
incrustadas no fundo nos elos livres
libertinas pupilas capturando a linha céu-mar
boca rasgada ressecada de contar histórias
de pedir ajuda como se Deus
fosse uma gaivota risonha pedindo paciência
escavando na solidão
camada por camada de um coração derrotado
adiando o dia em que o último grito
se junte aos ausentes
***
Lanchita amarilla
jineteando los estadios de la mar camina
entre vivos países y muertas fronteras
en la hembra del hambre se suma a la lucha
tiemblan los límites ante su paso
como si no tuviera cuerpo
se despoja de su imponencia
y nada al descubierto
es escudo y sensibilidad
apogeo tierno de animales acostumbrados
seres errantes para certeros martirios
nave herida rabiosa persevera
y así se va comiendo todo el sur
*
Lanchinha amarela
cavalgando os campos do mar caminha
por entre vivos países e mortas fronteiras
pela fímbria da fome se soma à luta
tremem os limites à sua passagem
como se não tivesse corpo
se despoja de sua imponência
e nada sem disfarces
é escudo e sensibilidade
apogeu terno de animais acostumados
seres errantes para certeiros martírios
nave ferida raivosa persevera
e assim vai comendo todo o sul
***
vos de mi
así es vos de mi como que venís pero te vas
como el hollejo de las uvas en el paladar
las sobras de lo que falta y amamanta mi tiempo
la cabeza llena es vos en mi
parietal horadado por el índice
el vigía de mis pensamientos cree que le miento
una vez tuve vientos en el corazón
que me extirpaban la realidad tomados
como violines a las manos de sus amos
eran lengüetazos impulsados a la que te criaste
yo nunca pude sostener el peso de mi alma
ni el peso que valía y vale hoy aún
no es que quiera victimizarme
ni correr despavorido detrás de un consuelo
o planear cual mariposa reseca en su último minuto
es tan solo aguardar que la sombra de tu conciencia
sostenga mis heridas
*
tu de mim
assim és tu de mim pareces vir mas te vais
como a pele das uvas no paladar
as sobras do que falta e amamenta meu tempo
a cabeça cheia és tu em mim
parietal perfurado pelo indicador
o vigia de meus pensamentos crê que minto
uma vez tive sopros no coração
que me extirpavam a realidade considerados
tolice nas mãos de seus senhores
eram lambidas dadas àquela que te criaste
nunca pude sustentar o peso da minha alma
nem o peso que valia e vale hoje ainda
não que eu me queira vitimar
nem correr apavorado atrás de um consolo
ou planejar qual mariposa seca em seu último minuto
é apenas aguardar que a sombra da tua consciência
sustente minhas feridas
***
casuarina
perfumada al aire respiro su oxígeno rítmico
aguardo su cabello pleno de cielo
zumbante trigo venteado en mi rostro
oscurecido por las uñas del sol
asido estrecho errático
tus raíces entrañadas saben de profundidad y frescura
paso un dedo con mi agua por tus pies de parto apenas
soy mirlo curioseando la piel
experta sedosidad que asciende hasta tu boca
soñadora de bosques
tu boca que sesea mi nombre
elegido por la madre de este casi que soy
tu hojarasca abatida para nutrir
ese sustento que nos rescata de la gravedad
ingrávida broza sedienta en la muerte
cada remolino ha pretendido desorientarte
veleta alocada como este corazón que acá
entinta la tersura de tu existencia
pero vos te quedás irrenunciable en tu postura
guardiana de mi vida y tu alrededor
escondida y visible invisible imposible
trovadora tu voz aguitarrada
protestona sin juicio
ave de alas verdes es tu llanto tu canto
la ironía emblema la cordura insensata que te puebla
y genera de la tibieza escalofríos
*
casuarina
perfumado o ar respiro seu oxigênio rítmico
aguardo seu cabelo cheio de céu
uivante trigo soprado em meu rosto
obscurecido pelas unhas do sol
assado estreito errático
tuas raízes entranhadas sabem de profundidade e frescor
passo um dedo com minha água por teus pés recém-paridos
sou corvo investigando a pele
exímia maciez que sobe até tua boca
sonhadora de bosques
tua boca que sussurra meu nome
escolhido pela mãe deste quase que sou
tua folhagem abatida para nutrir
este sustento que nos resgata da gravidade
imponderável silva sedenta na morte
cada redemoinho pretendeu te desorientar
pluma enlouquecida como este coração que aqui
mancha a maciez da tua existência
mas permaneces irrenunciável em tua postura
guardiã da minha vida e teu entorno
escondida e visível invisível impossível
trovadora tua voz aguitarrada
rabugenta sem juízo
ave de asas verdes é teu pranto teu canto
a ironia emblema a sensatez insensata que te povoa
e gera da fraqueza calafrios
Gáston Sequeira nasceu em 1975 em Coronel Pringles, Provincia de Buenos Aires, Argentina. Reside em mar del Plata desde sua infancia. É escritor e editor. Realizou diversas oficinas de leitura e criação literaria. Integra alguns grupos ligados a leitura. Participou de feiras dolivro (Mar del Plata, 2011 e 2013, Vila Mercedes, San Luis, 2013), do Festival Internacional VaPoesía Argentina 2017, assim como de encontró de escritores. Seus textos circulam em formato digital em diversos sítios e blogs (Mispoetascontemporâneos da Argentina, metaforologia.com da América Latina e ILA Magazine do Marrocos). }Seu libro de poemas La lengua del poeta foi editado por Alma de Diamante (Mar del Plata), premiado em certame internacional. Alguns de seus poemas foram incluídos em uma plaquete pela editora La Garza Mora (Buenos Aires). É criador, director e coordenador do ciclo “Palimpsetos Encuentro de lecturas de autor.
Celina Portocarrero é poeta, tradutora, antologista. Autora de Retro-Retratos (poesia, 7Letras, 2007) e A princesa e os sapos (poesia infantil, Memória Visual, 2013). Tem poemas incluídos na revista Poesia Sempre da Biblioteca Nacionale e em diversos sites de literatura brasileira. Organizou, entre outras, a antologia Amar, verbo atemporal: 100 poemas de amor (Rocco, 2012). Tradutora experiente, trabalha com francês, inglês, espanhol e italiano. Por Um amor de Swann, de Marcel Proust(L&PM, 2005), recebeu o Prêmio Açorianos de Literatura. Coordena, desde 2007, oficinas de tradução literária (aulas na Estação das Letras, na Livraria da Travessa e em encontros individuais). Em2009 e 2011, colaborou na curadoria do Café Literário da Bienal do Livro do Rio de Janeiro. No mesmo evento, participou como mediadora do Café Literário e do Encontro com o Autor em 2009, 2011 e 2013. Compareceu, como autora convidada, à Fliporto – Feira do Livro de Pernambuco (2013), ao 15º Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens (2013), ao Café Literário Off-Flip(2012 e 2011) e ao Fórum de Letras de Ouro Preto (2011). Em 2012 e 2013 prestou serviços de tradução, redação e revisão à Academia Brasileira de Letras.
Uma resposta
Gran poeta y amigo Gastón felicitaciones!