A Montanha, poema de Antônio LaCarne

Imagem: Sofia Borges
 
 
 
A MONTANHA
 

foi de repente que você quis afogar o mundo
e não se dedicar ao verão,
despercebido em qualquer floresta,
um homem procurando sombra,
o vestígio das próprias roupas
que enxugamos na varanda
e de lá percebemos o motor do automóvel
que me trouxe a um bairro
onde só você estava ao meu alcance,
tão moreno e sem camisa,
talvez muito perdido ao lado da piscina,
alguém que oferece ombro
depois cama e beijo nos pés,
alguém que de vez em quando
é irreconhecível e se debruça
lento e forte e produtivo,
a mesma pessoa que me perguntou
por quanto tempo esperei
as sombras finalmente tomarem forma,
cientes do abismo ou da montanha
que você caiu rolando
ao se deparar com um lago
tão transparente assim como nós mesmos.

Antônio LaCarne é cearense, autor de Salão Chinês (Patuá, 2014), Todos os poemas são loucos (Gueto Editorial, 2017). Participou das antologias poéticas A nossos pés (7Letras, 2017) e Golpe: antologia-manifesto (Nosotros Editorial, 2017).

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