5 poemas de Chris Herrmann

 
 
Vestida para matarenquanto a vida lhe sangrava
por todos os astrolábios
sem ao menos apontar
uma estrela-guia acesa
ela os estancava
com batom

revestida
de pele doída, nua
saía todo dia vestida
para matar

matava a dor
matava o medo
matava a morte
e o amor maquiado
de consorte

Jaz em mimbem me quer mal me quer
quando criança era assim

bem se descobriu mulher
mal despetalou o coração

mataram todas as flores
daquele imenso jardim

a ilusão virou um mato
e a decepção cresceu
feito capim

Vinho tintocom o batom
ainda borrado
de tinta fresca
nos lábios

você foi
me fugindo
entre as taças
da mão

  
Mulher para toda obrade dia, ela peita
os traços nebulosos
de um cavalete
mundano

à noite, ela dribla
as cores pálidas
do sonho

na bolsa,
carrega batons
de todas as dores

Mulher da vidaa lua que meteora
feito santa sem fé
veste se despe reflete
sua transparente
combinação
suas sombras à meia-luz
no vai e vem das marés
provocando o amar
na hora e de quem
bem quiser
ela dá bola pra todos

se não fosse o coração
esburacado
meio forte meio frouxo
largaria de vez dessa vida
desse vulcão azul
sem razão apaixonado
os trocados de presente
os entornos sem futuro
para se entregar
coadjuvante
mente ao sol

esqueceria
as novas mentiras
os quartos minguantes
os homens de antes
os ratos amantes
os infiéis humanos
os pagamentos baratos
os dilemas da Terra
os soldados as guerras
as fases de poesia
poemas bruxarias
crateras

deixaria de ser
essa puta mulher
cheia de vida profana
vagabunda orbitante
vadia cósmica mundana
sobre-humana
ferida aberta feminina
menina-moça vivida
descrescente criança
filha da mãe amante
mulher da vida
eterna mulher-dama

: seria nada e vazia
talvez fria viúva
da fauna da flora
do planeta
sem vida sem Terra
sem arte sem tela
sem ela
sem nós

 
Ilustrações: Leslie AnnODell
Chris Herrmann é musicista, editora, escritora/poeta carioca, radicada na Alemanha desde 1996. No Brasil, estudou Literatura, Música e Webdesign. É pós-graduada em Musikgeragogik na Alemanha. Organizou e participou de várias antologias de poemas. É autora dos livros de poesia Voos de Borboleta, Na Rota do Hai y Kai, Gota a Gota e do romance Borboleta – a menina que lia poesia. Editora do blog literário Boca a Penas com Adriana Aneli. É uma das autoras da Revista Plural Scenarium. Colabora e tem poemas publicados nas revistas eletrônicas Algo a Dizer, Zona da Palavra, Blocos Online, Mallarmargens, Germina, entre outras.

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