por todos os astrolábios
sem ao menos apontar
uma estrela-guia acesa
ela os estancava
com batom
revestida
de pele doída, nua
saía todo dia vestida
para matar
matava a dor
matava o medo
matava a morte
e o amor maquiado
de consorte
quando criança era assim
bem se descobriu mulher
mal despetalou o coração
mataram todas as flores
daquele imenso jardim
a ilusão virou um mato
e a decepção cresceu
feito capim
ainda borrado
de tinta fresca
nos lábios
você foi
me fugindo
entre as taças
da mão
os traços nebulosos
de um cavalete
mundano
à noite, ela dribla
as cores pálidas
do sonho
na bolsa,
carrega batons
de todas as dores
feito santa sem fé
veste se despe reflete
sua transparente
combinação
suas sombras à meia-luz
no vai e vem das marés
provocando o amar
na hora e de quem
bem quiser
ela dá bola pra todos
se não fosse o coração
esburacado
meio forte meio frouxo
largaria de vez dessa vida
desse vulcão azul
sem razão apaixonado
os trocados de presente
os entornos sem futuro
para se entregar
coadjuvante
mente ao sol
esqueceria
as novas mentiras
os quartos minguantes
os homens de antes
os ratos amantes
os infiéis humanos
os pagamentos baratos
os dilemas da Terra
os soldados as guerras
as fases de poesia
poemas bruxarias
crateras
deixaria de ser
essa puta mulher
cheia de vida profana
vagabunda orbitante
vadia cósmica mundana
sobre-humana
ferida aberta feminina
menina-moça vivida
descrescente criança
filha da mãe amante
mulher da vida
eterna mulher-dama
: seria nada e vazia
talvez fria viúva
da fauna da flora
do planeta
sem vida sem Terra
sem arte sem tela
sem ela
sem nós