**Escuta, ao menos os escombros de meu canto**
Pintaram pássaros nas árvores,
céu e sol sobre o telhado de tua casa.
Comovido tempo em ti se dobra,
como a sinfonia das folhas no vento,
como o instante logo após que te vi.
céu e sol sobre o telhado de tua casa.
Comovido tempo em ti se dobra,
como a sinfonia das folhas no vento,
como o instante logo após que te vi.
E eu sem feição nem acenos gentis,
filho de um reino de agonias,
caminha entre pedras o meu coração só.
E sente a ausência da paisagem,
e ouve a cantiga da chuva leve,
filho de um reino de agonias,
caminha entre pedras o meu coração só.
E sente a ausência da paisagem,
e ouve a cantiga da chuva leve,
Aos que não alcançam meus sinais
fico muito me achando em graça.
Minha alma move meu corpo frágil.
E sujo a brisa com meu riso,
E mudo o curso da desordem.
fico muito me achando em graça.
Minha alma move meu corpo frágil.
E sujo a brisa com meu riso,
E mudo o curso da desordem.
E se esmeram em perambularias
as vozes fraturadas às sombras,
desatinam rios por entre teias de águas-vivas.
E esses frutos que nascem amargos,
e essas raízes de metal que se alastram
e desnudam o sussurro do meu silêncio
as vozes fraturadas às sombras,
desatinam rios por entre teias de águas-vivas.
E esses frutos que nascem amargos,
e essas raízes de metal que se alastram
e desnudam o sussurro do meu silêncio
– Escuta, ao menos os escombros de meu canto!
RÉQUIEM A UM ADOLESCENTE
Canta para a friagem nos teus lábios,
a anti espera não pode se erguer
para alcançar fronteiras
a anti espera não pode se erguer
para alcançar fronteiras
daqui
em
diante
em
diante
O instante entre falas
redefine suspiros,
aí se originam os símbolos,
esses acesos ao redor
redefine suspiros,
aí se originam os símbolos,
esses acesos ao redor
Os pulsos gravam noturnos,
ancoram vigílias no peito
e se dobram nas margens coroadas de dores,
noutras estações frutificariam
ancoram vigílias no peito
e se dobram nas margens coroadas de dores,
noutras estações frutificariam
Acena para a vegetação,
repara na melodia do trigal
a findagem das rotas
repara na melodia do trigal
a findagem das rotas
Chora teu canto entre dentes,
adorna de repouso as pálpebras,
a morte é um acalanto viajeiro
adorna de repouso as pálpebras,
a morte é um acalanto viajeiro
A fuga para dentro do instante
reflui o eterno e silencia.
reflui o eterno e silencia.
FOI NO ANO DE 1920, EU FIZ MEU PRIMEIRO POEMA.
Eu comecei a fazer poesia no ano de 1920.
Foi um dia no mês de outubro,
não desabavam bombas sobre o Japão,
metais e palhetas num dixieland flertavam dilúvios,
marinheiros gemiam os cotovelos nos bordéis.
Se havia cantores de rock, não me recordo.
Acendi as sementes desajeitadas sobre meu
peito,
dali germinaram esses tigres que me acompanham.
Olhava as pombas que se salvaram do inverno,
as comparei aos elefantes em miniaturas no circo de lata.
Aquele primeiro poema era calmo,
como um guarda noturno desarmado.
peito,
dali germinaram esses tigres que me acompanham.
Olhava as pombas que se salvaram do inverno,
as comparei aos elefantes em miniaturas no circo de lata.
Aquele primeiro poema era calmo,
como um guarda noturno desarmado.
Dois dias depois, amanheci com canções nos
olhos,
milhares de pássaros me prometiam ao arrebol.
Olhei meus pés, esfriavam vermelhos,
barulhos de água sangravam de meus braços.
A moldura da janela flutuava.
Paisagens floresciam do meu suor.
olhos,
milhares de pássaros me prometiam ao arrebol.
Olhei meus pés, esfriavam vermelhos,
barulhos de água sangravam de meus braços.
A moldura da janela flutuava.
Paisagens floresciam do meu suor.
Um poema é um tratado de guerra
para soldados carregarem no bolso,
e não estou sonhando, a música se move
como um amor que se estilhaça em voz alta.
para soldados carregarem no bolso,
e não estou sonhando, a música se move
como um amor que se estilhaça em voz alta.
Um desenhador de madrugadas,
tem nas mãos a pele escura das auroras.
As sereias tricotando suas asas,
fazem súplicas, acariciam com os olhos as alturas.
tem nas mãos a pele escura das auroras.
As sereias tricotando suas asas,
fazem súplicas, acariciam com os olhos as alturas.
Silêncios de pedras ao meu redor imitam os
metais,
escoam armadilhas, nódoas, curvas, rastros de querubins.
Em minhas mãos nascem vozes de acordar flor.
metais,
escoam armadilhas, nódoas, curvas, rastros de querubins.
Em minhas mãos nascem vozes de acordar flor.
Só loucos penduram música no varal e desdenham
a dor.
No silêncio estudam a aerodinâmica dos discos voadores,
descrevem os suicídios sob a luz, num torpor surdo.
Escuram ruídos interiores, derramam vazios nas cores.
a dor.
No silêncio estudam a aerodinâmica dos discos voadores,
descrevem os suicídios sob a luz, num torpor surdo.
Escuram ruídos interiores, derramam vazios nas cores.
Foi no ano de 1920, eu fiz meu primeiro poema.
PEQUENA HOMILIA SOBRE AS PEDRAS
A noite calada,
despejam-se
pequenas anti-erupções,
luas fornicando a terra.
Pedras serenam,
fendam o lacrimário
de um céu que caiu.
Toda pedra move
o antigamente,
num embrulho
de eternidade.
Coração
que
não mais espera.
Sol
onde
a sombra termina.
o antigamente,
num embrulho
de eternidade.
Coração
que
não mais espera.
Sol
onde
a sombra termina.
Noutras vezes,
meu avô recolhia
as que ruiam distraídas.
Eram aves que
se desprendiam do limo.
Ele afugentava
o frio sobre elas,
cuidava de não apagar
o invisível das palavras.
meu avô recolhia
as que ruiam distraídas.
Eram aves que
se desprendiam do limo.
Ele afugentava
o frio sobre elas,
cuidava de não apagar
o invisível das palavras.
Minha avó
nasceu nas pedras.
Nelas aprendeu
a amolar o silêncio
para abrir sonhos.
nasceu nas pedras.
Nelas aprendeu
a amolar o silêncio
para abrir sonhos.
Para meu filho,
pedras são
olhos de dragões,
dentes de gigantes.
pedras são
olhos de dragões,
dentes de gigantes.
Para mim,
o nome da pedra
transborda meu vocabulário,
rio de água inalterada,
rã ofegante e mínima,
o pulso da pedra origina.
o nome da pedra
transborda meu vocabulário,
rio de água inalterada,
rã ofegante e mínima,
o pulso da pedra origina.
Caminhar
sobre
suas vozes
também é um milagre.
sobre
suas vozes
também é um milagre.
UM ANJO DESCAINDO
A água fazia andamento,
pisava por cima das casas.
Não fazia fagulha de vento, nem luz,
uma tristeza mais visível nos adultos
fumava de cócoras.
A água desgrudou os verdes,
abocanhou foi metros.
As pernas das casas
foram acariciadas pelo engulho.
abocanhou foi metros.
As pernas das casas
foram acariciadas pelo engulho.
A água ficou turva,
os peixes dardejaram as escamas.
Os meninos engolfam
para salvar os peixes infantis.
os peixes dardejaram as escamas.
Os meninos engolfam
para salvar os peixes infantis.
A mãe assombrou relâmpagos,
foi rompendo para baixo.
Apalpou o coração da água,
arredou o desalume,
mergulhou seu ocaso.
foi rompendo para baixo.
Apalpou o coração da água,
arredou o desalume,
mergulhou seu ocaso.
A água escorrega, tropeça.
A mãe deslinda o anjo descaindo,
embora com o sol na boca, o menino,
os peixes infantis das mãos fugindo…
A mãe deslinda o anjo descaindo,
embora com o sol na boca, o menino,
os peixes infantis das mãos fugindo…
PAISAGENS PARA OS HOMENS COMUNS QUE VOAM
As raízes da aurora exalam
ecos de melodias que penetram as casas.
As solidões repousam,
seus ciscos nos olhos das ferrugens,
se dobram ao dia, ao abrigo das águas.
A visão se afoga, desespera,
desampara a luz.
E ouve, ouve, ouve…
ouve os acenos entre os ermos,
lamentos de besouros sobre a fisionomia das flores.
desampara a luz.
E ouve, ouve, ouve…
ouve os acenos entre os ermos,
lamentos de besouros sobre a fisionomia das flores.
Quem conta os instantes
em que apascentas as asas do beija-flor
e lambuzas teus olhos de lágrimas?
É que o beija flor, por descalma nas asas,
origina o vento das flores.
em que apascentas as asas do beija-flor
e lambuzas teus olhos de lágrimas?
É que o beija flor, por descalma nas asas,
origina o vento das flores.
Abrem-se às coisas que sabem voar,
se despem, acendem os vazios, nectam.
Quem desmancha o ar com uma palavra,
sabe desarrumar silêncios,
inventar passaredos,
colher lagartas tristes.
se despem, acendem os vazios, nectam.
Quem desmancha o ar com uma palavra,
sabe desarrumar silêncios,
inventar passaredos,
colher lagartas tristes.
Pega teus utensílios de criar nomes,
descreve duas paisagens:
as tristezas têm a fundura dos ocasos;
as casinhas parecem crianças de mãos dadas,
indo para o rio.
descreve duas paisagens:
as tristezas têm a fundura dos ocasos;
as casinhas parecem crianças de mãos dadas,
indo para o rio.
Ilustrações: Vito Campanella
Edmir Carvalho Bezerra é paraense nascido na cidade de Monte alegre. Reside na capital Belém. Escreve poesia, contos e crônicas. Autor dos livros Dizerudito – poemas, Águas e anoitecimentos, Breves cartas de amor, O que faço com esses versos de amor?”e Eu tenho um segredo para as suas lágrimas – poesia infantil para adultos lerem.