
O poema aquece
as montanhas
quase sem voz
e relativiza a fúria
Inocente e letal
Do vento
***
Da noite pró dia
Inverte-se o canto
Augúrico da cotovia
***
Milagre d’ estreia
Vida prazenteira,
Gesto normal.
Encadeamento
De claros
Acordes
Outonais.
Absorta lentidão.
Desejo,
Combate,
E renúncia
À tentação
Do recentemente
Adiado mil acre d’estreia
(sem unanimidade).
Prolongado o tempo
Da subtileza linguística.
Impaciente o esforço…
– Bica poética para a mesa sete!
***
Porto
a poesia vai
pela rua,
nua.
esconde-se
nas manhãs mais
frias.
e é à noite que lhe foge
a voz.
lenta
e lenta,
lentamente,
até
desembainhar
na
f
o
z
***
O poema emerge da cloaca musical de Brahams, eternizando o momento:
palavra-sopro.

Beber tanto azul
Até limpar a
Neurose.
***
f i m
e a o
c a b o
inquieto
semifuso
numerador
intermezzo
abismal dia
comunidade
cinético corpo
limbo passeio
contra pombo
justo benfeitor
força e género
grande assalto
fome assass i n a
fertilizante racial
explosão atónita
fundição romana
unidade de tempo
elos intermediários
sofrer privatizações
dança renascentista
arrebatamento boémio
café com vista pra tudo.
***
O poema
como
Pétala de escravo
marinho
que enternece.
No facebook: https://www.facebook.com/livro.azulinstantaneo.5
Pedro Vale é de Guimarães mas leciona e vive no Funchal , ilha da Madeira, há 16 anos. Professor de primeiro ciclo e estudante universitário de Cultura, ama todas as formas culturais em geral e as artes em particular.Azul instantâneo é o seu primeiro livro.