Poemas para Curitiba – Paulo Vallim

 
 
CURITIBA SECOU
O que aconteceu
contigo,
Curitiba?
 
 
Sempre foste
tão chuvona…
Não sabes mais
chover?
 
Tu precisas
fazer um esforço;
será bom para ti.
 
(Algumas pancadas
de chuva acabaram
de voltar a Curitiba.)
 
Mesmo assim,
conta para mim, Curitiba:
 
o que foi
que te aconteceu?
 
Conseguiste chover,
é verdade;
 
parabéns,
embora tenha notado
 
que choveste
uma chuva ácida.
 
Paulo Vallim – 30.09.2017
 
 
 
CURITIBA DORME
 
Curitiba dorme.
 
As pálpebras
das lojas
estão fechadas;
 
pálpebras
covardemente tatuadas
pelos pichadores.
 
Eis-me novamente
no meio
desse Centro,
 
no centro
desse meio;
 
os olhos
bem abertos.
 
Paulo Vallim – 04.09.2016
 
 
 
A ESTANTE DO TERMINAL
 
Cheguei ao terminal
da Praça Carlos Gomes,
aqui em Curitiba.
 
O ônibus me esperava,
mas não resisti
e corri até a estante
de livros disponíveis
para empréstimo,
na esperança
de algo interessante
ou divertido.
 
Não encontrei nada;
corri até o ônibus
e dei com o nariz
na porta.
 
Quebrei a cara;
perdi o ônibus,
mas não perdi
a esperança.
 
Paulo Vallim – 30.10.2016
 
 
 
OS DOIS GUARDA-CHUVAS
 
Curitiba é assim:
uns dias chove,
 
outros dias
pode ser.
 
Hoje é um dos dias
“pode ser”.
 
Eis-me no ônibus
com dois guarda-chuvas;
 
com dois
guarda-chuvas,
 
num desses dias
pode ser.
 
(Um guarda-chuva
é para eu devolver,
 
e o outro,
para me precaver.)
 
Quem me vê
com dois guarda-chuvas
 
num dia de chuva
apenas pode ser,
 
pode ser que pense:
 
quanto vale esse homem
que tanto pensa no depois
 
e que carrega
guarda-chuvas para dois?
 
Paulo Vallim – 07.03.2018
 
 
 
A SUPERLUA CURITIBANA
 
A Lua
nunca esteve
tão cheia de si.
 
Superlua curitibana,
ei-la nas nuvens
a flutuar.
 
Por que tanto
te envaideces,
Superlua?
 
O que te põe
nas alturas
é também o que
te rebaixa.
 
(Teu apogeu
nada mais é
que apenas perigeu.)
 
Esta fase
minguará
antes que percebas,
e quando estiveres
nas alturas,
aí sim no teu auge,
serás uma cabecinha branca,
pálida e humilde,
que ninguém mais
há de querer ver.
 
Lua cabeçuda
porque nova,
estás é cheia de sol,
mas muito ainda tens
o que crescer.
 
Paulo Vallim – 14-16.11.2016
 
 
 
 
Paulo Roberto Pereira Vallim nasceu em 1962 em Curitiba, onde mora. Somente em 1987, aos 24 anos, começou a arriscar seus primeiros poemas, que rapidamente repercutiriam em alguns concursos. Em 1991, contudo, começava a uma crise criativa que só terminaria em junho de 2014, graças ao incentivo do poeta Geraldo Magela Cardoso. Depois apareceram outros apoiadores, como os poetas Márcio Davie Claudino, Jandira
Zanchi e Pepita de Oliveira, bem como da jornalista Izabel DuvaRapoport, dentre outros. Foi publicado em antologias de concursos, nos jornais Correio de Notícias, Folha de S. Paulo, RelevO, na revista Vida Simples, além da revista Mallarmagens.  A partir de agosto de 2015 passou a participar de alguns saraus, e a experiência de palco estendeu-se a uma participação em um show da banda de rock Renegados do Folk no Paço da Liberdade, a convite da vocalista Andressa Nowak, a quem também muito agradece.

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